Filme do Dia: As Travessuras do Cupido (1908), J. Searle Dawley
As Travessuras do Cupido (Cupid’s Pranks, EUA, 1908). Direção: J.
Searle Dawley. Fotografia: Edwin S. Porter. Com: Violett Hill, Marie Murray,
Mr. Barry, Phineas Nairs, Laura Sawyer.
Cupido (Hill) sonolento é
posto para trabalhar. Sobrevoando a cidade, irá pousar sobre um baile,
intercedendo por uma mulher (Murray) que pretende se aproximar, até então sem
sucesso, de um homem que lá se encontra. O Cupido rapidamente efetua sua
tarefa, porém a situação demonstra ser complexa e, no final das contas, além de
seu alcance.
No emblemático ano em que
Griffith estreia como diretor e o cinema se volta de forma mais acentuada rumo
à narratividade, tem-se esse exemplo que mescla narração e uma fantasia mais
livre e próxima do cinema de atrações, como as trucagens que fazem uso de
visíveis sobreposições que ilustram o vôo do anjo pela cidade. Também se deve
notar outra mudança significativa rumo à “integração narrativa” em termos de
produção. Porter, que outrora poderia ser considerado responsável por
produções, inclusive algumas delas de notório destaque (O Grande Roubo do Trem, Vida
de um Bombeiro Americano, dentre inúmeros), vê-se deslocado de sua função
de destaque pela figura do equivalente ao encenador teatral, aqui representada
por Dawley (Frankenstein). Como a
decupagem clássica ainda se encontrava longe de ser sequer esboçada e tudo aqui
é filmado de uma distância evocativa do palco teatral, em planos abertos que
também enquadram o cenário, os atores devem gesticular de forma que brevemente
seria considerada exagerada para simplesmente fazerem notar suas ações, como é
o caso do pretendente literalmente laçado pelo cupido que encontra uma carta,
que se torna motivo de discórdia entre o casal. Seu final seria surpreendente
caso ocorresse tempos após, já que sobra para o cupido, que sai mancando e a
concretização do amor entre o casal é desconstruída. A cópia algo deteriorada
se junta a – e principalmente – obscuridade de elementos da narrativa,
sobretudo em seu desfecho e a ausência de cartelas, tal como no filme de
estreia de Griffith (As Aventuras de
Dollie) que, no entanto, ao contrário desse, é perfeitamente compreensível.
Aqui, curiosamente, o célebre realizador surge em uma ponta não creditada na
cena do baile. Destaque para os momentos em que se apela mais fortemente ao
humor, seja quando o superior do cupido, ao lhe empurrar quase literalmente ao
trabalho, também dispô-lo em seu traje padrão, cuja nudez é aqui evocada por uma
malha que substitui a pele, como então bastante comum. Ou a cena em que o
cupido sai mancando e de muletas do futuro casal que agora já é passado. Edison
Manufacturing Co. 10 minutos e 8 segundos.
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