Filme do Dia: Paixão (1982), Jean-Luc Godard
Paixão (Passion, França/Suíça, 1982). Direção e
Rot. Original: Jean-Luc Godard. Fotografia: Raoul Coutard. Montagem: Jean-Luc
Godard. Dir. de arte: Jean Bauer & Serge Marzolff. Figurinos: Christian
Gasc & Rosalie Varda. Com: Isabelle Huppert, Hanna Schygulla, Michel
Piccoli, Jerzy Radziwilowicz, Lászlo Szabó, Sophie Lucachevski, Magali Campos,
Myriem Roussel.
Um diretor
de cinema polonês, Jerzy (Radziwilowicz) se divide entre dois romances, com a
atriz Hanna (Schygulla) e a operária Isabelle (Huppert), enquanto é cobrado
para criar uma história pelo produtor Laszlo (Szabó).
Que não se
espere o esboço de uma narrativa linear em mais uma investigação que Godard realiza do amor e do próprio cinema. Longe de ter a carga política de sua fase
mais engajada presente na sua reflexão sobre o cinema em Vento do Leste (1969) e herdeiro de uma leitura desconstrucionista
tanto desse filme quanto de seu O Desprezo (1963), ambos igualmente fazendo referência ao mundo do cinema, o
filme se constrói enquanto sátira do filme de amor e dos próprios filmes que
investigam bastidores de filmagens. Nesse sentido, pode-se perceber uma
proximidade maior com aqueles que procuraram criar uma leitura dessacralizante
do cinema enquanto um universo mágico, na linha do Fassbinder de Precaução diante de uma Prostituta Santa
(1971), distanciando-se da apologia sentimental do Truffaut de Noite Americana (1973), ao qual faz uma
referência em forma de pastiche, quando o cineasta é cercado por seus mais
diversos contribuidores e longe da paciência do alter-ego do seu ex-companheiro
de Nouvelle Vague, reage da forma
mais iracunda possível, saindo pela única vez de sua habitual impassibilidade e
aproximando-se do comportamento habitual do protagonista do filme de Fassbinder. Da mesma maneira que os filmes acima citados, as referências
metalingüísticas não deixam de fazer menção ao universo ao qual o próprio cineasta
é habitualmente referido. Enquanto no filme de Truffaut se tem um retrato de um
paciente e hábil maestro que procura aparentar tranqüilidade para todos que o
rodeiam e no de Fassbinder o cineasta é completamente histérico e tem uma
obsessão por humilhar seus colaboradores, no filme em questão, a certo momento,
o cineasta polaco reage indignado à interrogação de uma garota sobre qual é a
história de seu filme. O resultado final, no entanto, é extremamente
prejudicado pela sua voluntária opção pelo caótico em oposição às facilidades
das narrativas convencionais. Caótico, no entanto, que emana mais a tédio e a
relação ambígua do cineasta com seu próprio meio de expressão que a vitalidade
de seus melhores filmes. Porém, sobram alguns momentos de brilho, como o
próprio plano inicial de um avião rasgando com sua fumaça o céu, reflexões
sobre como o trabalho sempre fica ausente dos filmes, - não é à toa que um dos sets de filmagem ocorre
justamente numa fábrica – assim como o
dinheiro que é engajado na produção dos mesmos ou que se deve vivenciar as
experiências para depois pensar em narrá-las. Ainda que tais considerações
coubessem tão bem no papel que até dispensassem as imagens para serem
interessantes. O roteirista Jean-Claude Carriére, célebre por sua parceria com
Buñuel, realizou uma colaboração não creditada. Filme et Vidéo Compagnie/JLG
Films/Sara Films/Sonimage/TSR. 88 minutos.
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