Filme do Dia: Dias de Glória (2006), Rachid Bouchareb
Dias de Glória (Indigènes, França/Argélia/Marrocos/Bélgica, 2006). Direção: Rachid
Bouchareb. Rot. Original: Rachid Bouchareb & Olivier Lorelle. Fotografia:
Patrick Blossier. Música: Armand Amar & Cheb Khaled. Montagem: Yannick
Kergoat. Dir. de arte: Dominique Douret. Cenografia: Pierre Chevalier. Com:
Jamel Debbouze, Samy Naceri, Bernard Blancan, Roschdy Zem, Sami Bouajila,
Mathieu Simonet, Assaad Bouab, Benoît Giros.
Um grupo de homens do norte africano
se alista voluntariamente às forças francesas durante a Segunda Guerra Mundial.
Dentre eles se encontra o ingênuo argelino Saïd (Debbouze). Eles são
destratados pelo rude sargento Roger Martinez (Blancan) que, no entanto, a
partir do momento em que percebe a desenvoltura e ousadia com que lidam com as
situações de tensão, assim como as baixas sofridas, começa a valoriza-los
diante de seus superiores. Um dos mais revoltados com as condições
diferenciadas com que são tratados os africanos em relação aos franceses é o
mais culto Abdelkader (Bouajila). O romântico Messaoud (Zem), sonha em voltar a
encontrar a bela francesa por quem se apaixonou e a quem as cartas que envia
são interceptadas e censuradas, assim como as dela. Os anos vão passando, e os
soldados continuam percebendo a discriminação cada vez mais, sejam ao não
conseguirem licença com a mesma frequência dos franceses nascidos na França,
seja na forma com que Saïd, até então o “queridinho” do sargento Martinez, é
estupidamente escorraçado por aquele, ao ser lembrado, quando esse o chamou
para beber, de sua ascendência comum. Saïd torna-se crescentemente em dúvida
sobre como tudo acabará. Abdelkader assume o comando do pelotão, quando
Martinez é ferido com certa gravidade, após a ousada, e quase suicida, incursão
pelo território da Alsácia. Os alemães retornam ao vilarejo alsaciano e se, de
início, são surpreendidos pela ofensiva do pelotão de Abdelkader, acabam
massacrando a todos, a exceção do próprio Abdelkader que, 60 anos após, presta
seu tributo aos companheiros mortos todos no mesmo dia de janeiro de 1945.
Às dimensões algo épicas do filme de
guerra convencional, assim como a sua habitual particularização de tipos de um
pelotão, encontra-se presentes, dentre outros cacoetes assumidos nessa produção
de grande porte, porém, o foco aqui se vincula menos ao inimigo estrangeiro, no
caso a Alemanha nazista que é o pretexto de luta para todos, que as fissuras internas.
Fazendo uso de uma estética e dramaturgia grandemente clássicas, sem olvidar
sequer da insistente trilha melódica musical que acompanha a narrativa
praticamente do início ao final, Bouchareb procura se esquivar do maniqueísmo.
Se o personagem mais próximo de assumir uma potencial caricatura é o do
sargento vivido intensamente por Blancan, esse tampouco demonstra se encontrar
ausente de um grau de complexidade que parece, sub-repticiamente, servir como
alegoria para uma relação mais nuançada entre as relações colônia-metrópole do
que poderia ser sugerido à primeira vista – ou tal se daria apenas pelo fato da
má consciência do próprio sargento, ele próprio de ascendência norte-africana?
De toda forma, o sonho de reconhecimento de Abdelkader evidentemente não surge
como tendo reconhecimento posterior, dada as modestas condições de sua moradia
e o comentário final que surge sobre a aposentadoria dos ex-combatentes, limada
a partir da independência das ex-colônias, a não ser por um breve momento desde
então. Há algo de spielberguianamente
clichê nesse desfecho, ainda que a moldura familiar se encontre longe de
prevalecer sobre a histórica, como no caso de O Resgate do Soldado Ryan (1998). Seu título internacional, ao qual
se submeteu a tradução brasileira, definitivamente se aproxima mais do eixo de
convencionalidade retórico-formal do filme e se afasta do teor
político-identitário que o original remete. Prêmio de interpretação coletiva ao
elenco masculino no Festival de Cannes. Tessalit Prod./Kiss
Films/France 2 Cinéma/France 3 Cinéma/Studio Canal/Taza Prod./Tassili
Films/Versus Prod./SCOPE Invest para The Weinstein co. 128 minutos.
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