Filme do Dia: Gli Anni Ruggenti (1962), Luigi Zampa


Gli Anni Ruggenti (Itália, 1962). Direção: Luigi Zampa. Rot. Original: Luigi Zampa, a partir do argumento de Zampa, Vincenzo Talarico & Sergio Amidei. Fotografia: Carlo Carlini. Música: Piero Piccioni. Montagem: Eraldo Da Roma. Dir. de arte: Piero Poletto. Cenografia: Nedo Azzini. Figurinos: Lucia Mirisola. Com: Nino Manfredi, Gino Cervi, Michèle Mercier, Gastone Moschin, Salvo Randone, Angela Luce, Rosalia Maggio, Linda Sini.
Nos anos 30, em pleno auge do fascismo na Itália, um vendedor de seguros, Omero Battifiori (Manfredi), recém-chegado de Roma, é confundido pela corrupta elite local com o inspetor fascista que irá supervisionar as ações das lideranças locais, provocando um enorme frenesi. Salvatore Acquamano (Cervi), o prefeito, trata de direcionar sua filha, Elvira (Mercier), para o rapaz. O médico local De Vicenzi (Randone) revela tudo a Omero, a essa altura já noivo de Elvira. Embriagado, Omero provoca escândalo em concorrida reunião social para celebrar publicamente seu noivado e, após revelar sua verdadeira identidade, tem o noivado rompido por Elvira. Quando parte de trem, observa a chegada do verdadeiro inspetor fascista.
Zampa retorna à veia cômica, via sátira social, que precocemente já havia direcionado ao fascismo com seu Anni Difficili. Na produção anterior, de 1948, observara os meandros da sociedade fascista de forma menos carregada, em chave de crônica do cotidiano mais interessante que a aberta farsa aqui apresentada. O caráter farsesco, com seus códigos de interpretação demasiado convencionais, nem sempre gera de fato o efeito cômico perseguido -  alguns de seus tipos caricatos parecem prenunciar o que Fellini efetivará, através de uma leitura ainda mais caricata e completamente subjetiva, com seu Amarcord. Quanto ao desvelamento dos podres da pequena e corrupta elite local, o filme peca ao não incluir o seu próprio protagonista em sua teia (ao contrário do que Fassbinder fará, por exemplo, a partir de outra chave, com seu Lola), como que puxando o espectador médio a se identificar com uma das poucas personagens que apresentam uma retidão moral, ao menos no campo profissional. Já no amoroso, o filme naturaliza o desejo masculino, observado em sua depuração seja no espetáculo teatral, cujos atores homens são vaiados e as mulheres aplaudidas, em uma plateia eminentemente masculina ou observado de forma não menos simpática na figura do próprio protagonista que apenas pretende ouvir detalhes sobre a filha do prefeito, não do filho; já a mulher do prefeito é observada sob lente menos simpática, como devoradora de homens que não se esquiva em tentar seduzir o próprio pretendente da filha. Destaque para a cena em que Omero é completamente sitiado pela pobreza e mendicância que são, de certo modo, sustentáculo político para sua inescrupulosa elite; sintomaticamente, é através de um vinho servido pelos populares que se iniciará o processo que culminará com a catarse “desmascaradora” do personagem. Se Manfredi, popular ator cômico, parece demasiado engessado em sua caracterização aos ditames da farsa, o veterano Gino Cervi constrói um personagem que, até mesmo fisicamente, pouco lembra o da liderança fascista vivida há pouco em A Noite do Massacre, de Florestano Vancini. Com talvez excessiva liberdade, poder-se-ia afirmar que o modo como o filme brinca com o período histórico que retrata é algo similar a outras experiências temporalmente próximas em diversos países, mesmo que ao contrário desses (O Homem do Sputnik, Cupido Não Tem Bandeira), associação essa que diz respeito sobretudo às interpretações, já que aqui não se necessita de tantos recursos alegóricos, ao abordar o período histórico de forma mais direta, até mesmo por não ser o contemporâneo como nos casos de Wilder e Carlos Manga. Incei Film/SpA Cinematografica para Incei Film. 106 minutos.


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