Filme do Dia: O Apóstolo (2012), Fernando Cortizo


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O Apóstolo (Espanha, 2012). Direção e Rot. Original: Fernando Cortizo. Fotograria: Matthew Hazelrig. Música: Xavier Font, Philip Glass & Arturo Vaquero. Dir. de arte: Maria Hernanz. Montagem: Fernando Alfonsín.
Fugitivo de um presídio, fingindo ser um peregrino rumo a Santiago de Compostela, vai até a vila que o companheiro de fuga afirma que deixou o produto de seu roubo, na casa de uma senhora chamada Luisa. Ao lá chegar chegar se vê enredado em uma teia conspiratória formada pelos seus velhos – mais velhos do que ele imagina – moradores e a qual também se enredarão o arcebispo de Santiago de Compostela.
Infelizmente imagina-se que mais cedo ou mais tarde o filme perderá seu fôlego diante de sua hipnótica ambiguidade em relação ao que de fato se sucede. Quando isso, de fato, ocorre, por volta do primeiro terço (sem qualquer trocadilho) do mesmo, fica-se com a impressão que o abraço do gênero horror, incomum em uma produção de animação, sobretudo no formato longo, mesmo que costurado ao longo de prováveis lendas e narrativas medievas em uma vila aparentemente parada no tempo, provoca um inevitável desgaste em relação a certos clichês. Por mais que a aparente pesquisa vinculada a tal imaginário místico, a soberba atmosfera apresentada por seu desenho de produção e a banda sonora se encarreguem de atenuar tal impressão depreciativa. Imagina-se a necessidade de ser um prisioneiro – inclusive retornado a penitenciária após o episódio – o protagonista e não qualquer outro “turista” convencional o motivo de escolha do realizador, até mesmo por conta dos episódios envolvendo a curiosidade pela fortuna referida pelo outro prisioneiro e os roubos que ele lá comete não serem imprescindíveis e se situarem no campo da culpa cristã, aqui associada, de uma forma ou outra, a ritos inquisitórios e bárbaros. E, ao final, seu protagonista conseguir vincular todo o horror herdado das almas penadas de um repertório igualmente cristão a um profissional contemporâneo do mesmo credo, unindo as pontas de uma maldição a qual consegue escapar relativamente ileso e ainda de “alma lavada”. Talvez essa dimensão de parábola cristã que, ao mesmo tempo possui forte teor paradoxal de lidar com os horrores de sua própria tradição sejam um atrativo a mais nessa produção evocativa, sob chave outra, da relação de um realizador como Buñuel em relação à forte carga religiosa da cultura hispânica – e a qual seu Terra Sem Pão, sobre a região que lhe dá título, bem poderia servir como modelo para o casario semi-arruinado da vila fantasma no qual a maior parte da narrativa aqui transcorre. Mesmo que em grande parte não muito situada em termos temporais, em determinados momentos fica evidente se tratar da época contemporânea a sua produção, com automóveis e até mesmo referência a datas. Mesmo realizado com bonecos em stop motion possui uma digressão realizada em animação convencional. O esforço que deve ter demandado do realizador nascido em Santiago de Compostela, pode ser conferido nos gigantescos créditos finais, que somados aos iniciais, comportam quase um décimo de sua metragem. Dentre os atores que fazem as vozes das personagens se encontra a participação especial de Geraldine Chaplin e Paul Naschy, figura referencial no cinema de horror espanhol, morto anos antes do lançamento desse filme. Artefacto Producciones/Film Arante/Rosp Coruña. 77 minutos.


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