Filme do Dia: Medo e Desejo (1953), Stanley Kubrick
Medo e Desejo (Fear and
Desire, EUA, 1953). Direção, Fotografia e Montagem: Stanley Kubrick. Rot.
Original: Howard Sackler. Música: Gerald Fried. Dir. de arte: Herbert Lebowitz.
Com: Frank Silvera, Kenneth Harp, Paul Mazurksy, Stephen Coit, Virginia Leith,
David Allen.
Quarto soldados acuados diante das
tropas inimigas, lidam com a situação limítrofe de formas diferenciadas, que
vão da completa histeria a uma certa resignação cínica. O grupo consegue
avançar sobre a base inimiga e assassinar seu principal líder, dois deles conseguindo
fugir de avião.
É mais que provável que esse fosse um
filme que Kubrick se envergonharia de ter dirigido. Trata-se do primeiro de
seus 13 longas e o seu início, inundado pela magistral e vaporosa fotografia em
p&b, assim como por uma decupagem excêntrica e pouco convencional, parecendo
ser a consecução de um gênio idiossincrático à altura de outros filmes
marcantes do período, por sua originalidade e diferença em relação à produção
massiva dos grandes estúdios, como é o caso igualmente de On the Bowery. O resultado, no entanto, demonstra que virtuosidades
técnico-estilísticas jamais levarão além do oco formalismo se não forem
acompanhadas de algo minimamente substancial. E aqui não o são. Numa mescla
entre pretensões de um humor metido a inteligente e algumas soluções dramáticas
e/ou visuais dignas do mais banal produto televisivo, o filme capenga sobretudo
em sua recusa de ter um chão efetivamente histórico. Enquanto alegoria do que
seria “a guerra”, em geral, soa vago e toscamente imaturo, algo ainda mais referendado
pelo seu pífio elenco e por cenas de ação constrangedoras. Não se acredita, por
um minuto sequer, na situação proposta. E nem tampouco tal senso de
não verossimilitude de longe propõe um aceno efetivo para o universo do absurdo –
como Kubrick faria, a partir de um contexto específico, muito melhor demarcado
por sinal, em Dr. Fantástico. A
determinado momento deixado ao lado da bela senhorita que é capturada pelo
grupo, após descobri-los escondidos em meio a moitas, um jovem soldado tenta
entabular algo como um contato que transcenda às diferenças culturais e
linguísticas, situação passível de evocar uma semelhante ao primeiro episódio
de Paisà. Porém a comparação com o
filme de Rossellini se torna demasiado perversa, por conta da imaturidade e
falta de solo histórico específico que consiga emplacar alguma aproximação com
a situação apresentada. Aqui, pelo contrário, o resultante é um exercício de
estilo inócuo e demasiado pomposo em suas pretensões alegóricas. Algo que se
torna gradativamente pior, com o avanço das situações típicas do “teatro do
absurdo” que pretende povoa-lo, do início ao final. A forma como o exército
inimigo – de uniforme semelhante ao nazista-
é retratada é ainda, se possível, menos crível. Kubrick para Joseph Burstyn.
62 minutos.
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