Filme do Dia: Alraune (1928), Henrik Galeen
Alraune (Alemanha, 1928). Direção: Henrik Galeen. Rot.
Adaptado: Henrik Galeen, a partir do romance de Hanns Heinz Elwers. Fotografia:
Franz Planer. Música: Willy Schmidt-Gentner. Dir. de arte: Max Heilbronner
& Walter Reimann. Com: Brigitte Helm, Paul Wegener, Iván Petrovich,
Wolfgang Zilzer, Louis Ralph, Hans Trautner, John Loder, Mia Pankau.
Alraune (Helm) foi uma criação do
cientista Jakob ten Brinken (Wegener) a partir da inseminação artificial em uma
prostituta do sêmen de um enforcado. Ela é posta em um convento, de onde foge
com a ajude de um pretendente. Tempos depois é encontrada por ten Brinken em um
circo, onde desperta a paixão de vários que lá trabalham. Ten Brinken a leva
consigo e ela o considera como pai. Ela desperta a paixão de um Visconde
(Loder), que pede sua mão a ten Brinken, que a nega. Disposta a fugir com o
Visconde, Alraune descobre o diário de ten Brinken na hora da partida e,
revoltada, prefere não partir com o Visconde e vingar-se de Brinken. Ela vai
com ele até um hotel-cassino e ele a chama para ficar do seu lado para lhe
trazer sorte, e ela a traz, ganhando oito rodadas. Porém, logo quando o
abandona ele perde. No quarto, Alraune inicia um jogo de sedução com ten
Brinken, afirma que sabe de tudo e que partirá. Ten Brinken tenta impedi-la e
até mesmo matá-la, mas é salva pelo homem com o qual pretende se tornar humana,
afastando-se de vez de Brinken.
Galeen parece ter encontrado o ponto
certo para a lenda medieva reciclada pela literatura alemã na década anterior e
tema de diversas produções já no cinema mudo, sendo essa a sua última e melhor
versão (incluindo as duas posteriores para o cinema sonoro). Embora Alraune,
como na primeira versão sonora, seja interpretada pela mesma Helm (mais
lembrada sobretudo por Metropolis),
nada mais distante que os dois filmes. A começar pela própria
representação de Alraune, muito mais
erotizada e, ao mesmo tempo, mais simpática à personagem, observada aqui menos
como vilã que vítima. Ao contrário da produção de dois anos após, aqui a
narrativa tende a focar muito mais na relação um tanto ambígua entre ten
Brinken, vivido por um dos atores-fetiches do cinema expressionista, que apesar
de não ser exatamente o pai de Alraune, não deixa de ser a figura paterna por
excelência. É nessa relação que evoca diretamente incesto, interdição, sedução,
ciúme obsessivo e um amour fou não
concretizado que o filme se movimenta.
Em termos de representação de gênero, não se cria empatia pela figura
masculina destruída como em O Anjo Azul.
E seu final pode ser lido de forma ambígua, ao mesmo tempo uma vitória de
Alraune, porém em sua versão “domesticada” que já não mais será um modelo de
controvérsia ao mundo masculino – representando socialmente uma figura tão
ousada quanto o que se imagina que seria a figura de sua mãe, ou seja uma
prostituta, restrita a nichos específicos, e se a base genética é que explica o
comportamento de Alraune, somente a fé irrestrita na razão pode explicar a sua
súbita mudança após a compreensão de si mesma. E, fazendo uso de uma plástica
muito mais elaborada que as produções sonoras, o filme tira partido do brilho
dos adereços com filtros e um trabalho de iluminação que não deixa de
ressaltar, em determinados momentos, o contraste entre luz e sombras, sobretudo
em um momento de dança solitária de Helm. Galeen trabalha em chave algo mítica
o que posteriormente ganhará uma moldura mais realista (e confusa, diga-se de
passagem). Em termos de ritmo narrativo, pontuado por belos e incomuns fades, evocativos de algo explicitamente
técnico mais que artístico, o filme consegue criar interesse do início ao fim,
sobretudo em sua metade final, algo nem de longe conseguido pela tediosa
produção dirigida por Richard Oswald. Demonstra ser o mais criativo não apenas
visualmente, mas também em relação à obra de Elwers, compreendendo o meio
cinema como uma obra diversa e não apenas apêndice ilustrativo daquela. Algumas
redundâncias são desnecessárias, como a da sobreposição entre a raiz de
mandrágora e a esbelta Alraune, que já se podia perceber mesmo sem essa. Galeen,
talvez ainda mais que Wegener, é um nome-chave das tendências
expressionistas do cinema alemão, seja antes mesmo desse ser assim denominado
(com O Golem, de 1915), durante a roteirização do Nosferatu) e posteriormente como a
segunda versão de O Estudante de Praga
ou – e principalmente – aqui. Ama Film GmbH. 108 minutos.
Comentários
Postar um comentário