Filme do Dia: Quando Eu Era Vivo (2014), Marco Dutra


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Quando Eu Era Vivo (Brasil, 2014). Direção: Marco Dutra. Rot. Adaptado: Gabriel Amaral Almeida & Marco Dutra, a partir do romance A Arte de Produzir Efeito Sem Causa. Fotografia: Ivo Lopes Araújo. Música: Marco Dutra, Guilherme Garbato & Gustavo Garbato. Montagem: Bernardo Barcellos & Juliana Rojas. Dir. de arte: Luana Demange. Figurinos: Diogo Costa & Tarsila Furtado. Com: Antônio Fagundes, Marat Descartes, Sandy Leah, Gilda Nomacce, Helena Albergaria, Tuna Dwek, Rony Koren, Carlos Albergaria, Kiko Bertholini.
Desempregado e recém-separado da mulher, Júnior (Descartes) volta a morar no apartamento do pai (Fagundes), de onde tem lembranças intensas de sua infância e dos rituais que fazia com o irmão, Pedro (Libeskind), comandados pela mãe (Albergaria).  Júnior tem que dormir no sofá da sala, já que existe uma inquilina, Bruna (Leah), que ocupa seu quarto. Ele decide morar no pequeno quarto onde reencontra velhas quinquilharias dos tempos da infância e passa a mobiliar o apartamento com objetos da época e se tornar obcecado com uma partitura deixada pela mãe, que acredita se comunicar com ele através da música – interpretada por Bruna, estudante de música. O pai o leva ao reencontro com o irmão (Bertholini), internado em uma instituição psiquiátrica, que afirma sobre a necessidade desse ser morto. Ele e Bruna, sua única aliada em sua estranha missão,  participam conjuntamente de um ritual ao qual o pai também participará, mesmo que involuntariamente.
Construído com relativo domínio no reino do suspense e do estranhamento do início até pouco antes do final de sua primeira metade, o filme derrapa de forma vertiginosa quando embarca no que aparenta ser o mundo alucinado de Júnior, porém nunca se resolvendo entre uma representação realista da aparente esquizofrenia de seu protagonista ou a expressão de uma paranormalidade. O que poderia ser uma opção interessante em mãos mais talentosas, como é o caso da inescapável referência ao clássico O Bebê de Rosemary, aqui efetua um tiro no próprio pé, levando a um humor involuntário tal a aparente falta de controle sobre uma narrativa que acena, ao final, para um efetivo olhar do pai em relação ao filho – é sabido que a esquizofrenia se desenvolve sobretudo a partir de uma efetiva não comunicação e ausência de  afeto dos pais em sua relação com os filhos. Em boa parte, isso se deve aos esgares efetuados por Marat Descartes, num misto entre endemoninhado e psicótico infantilizado e como tal tratado pelo pai. Falta maior sutileza e soçobram clichês que o aproximam de um demonismo “banal”, da inversão da música cantada por Elizângela, Pertinho de Você à referências ao boneco do Fofão, personagem de um programa infantil que se chegou a criar boatos do tipo na sua época, assim como a alusão ao personagem vivido por Jack Nicholson em O Iluminado (1980), de Kubrick, por Marat. Sem esquecer a já por demais utilizada em filmes do gênero, Tocata e Fuga em Ré Menor, de Bach.  Dutra já havia empreendido uma incursão anterior no terror psicológico em Trabalhar Cansa (2011), com um elenco próximo. O passado é evocado visualmente seja através de imagens de vídeo da época, seja através de uma fotografia distinta, mais artificiosa e que parece traçar um paralelo com fotografias ou filmes em cores envelhecidas. E a banda sonora é bem elaborada, traduzindo um pouco da extrema sensibilidade acústica do universo psicótico. Infelizmente, no entanto,  o resultado final é  grandemente comprometido pelas pretensões que separam as intenções do pífio efeito conseguido. Camisa Treze/RT Feautures.

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