Filme do Dia: O Lobisomem de Londres (1935), Stuart Walker
O Lobisomem de Londres (Werewolf
of London, EUA, 1935). Direção: Stuart Walker. Rot.
Adaptado: John Colton & Edmund Pearson, a partir do conto de Robert Harris.
Fotografia: Charles J. Stumar. Música: Karl Hajos. Montagem: Russell F.
Schoengarth & Milton Carruth. Dir. de arte: Albert S. D’Agostino. Com: Henry Hull, Warner Oland, Valerie Hobson, Lester
Matthews, Lawrence Grant, Spring Byington, Clark Williams, J.M. Kerrigan.
Dr.
Glendon (Hull) é um cientista em missão botânica no Tibete que se vê
subitamente atacado por um animal bizarro. Ele retorna a Londres, onde se
transforma em lobisomem e aterroriza a cidade durante as noites de lua cheia.
Glendon recebe o alerta do misterioso Dr. Yogami (Oland), de que apenas uma
rara flor asiática pode servir como antidoto temporário contra a mutação e que,
caso ele não se precava, irá matar o seu próprio objeto de amor, no seu caso a
esposa Lisa (Hobson). Estranhando o crescente isolamento social do marido, Lisa
se torna cada vez mais próxima de um amigo que sempre nutrira intensos
sentimentos por ela, Paul Ames (Matthews). Disposto a matar os dois, Glendon é
morto pela polícia.
Habitualmente
esquecido como primeira produção a introduzir o tema do Lobisomem, que só
ganharia sua imagética definitiva em 1941, com Lon Chaney Jr. e uma maquiagem
que dizem já ter sido criada para essa produção e rejeitada por Hull, pela
lentidão que acompanhava o processo. Com exceção de seu atmosférico prólogo
inicial, belamente fotografado e distante das convenções associadas a filmes do
gênero, o filme provavelmente chamará maior atenção muito tempo após como mais
uma produção a explorar o universo “gótico” associado a Inglaterra como pano de
fundo para representar elementos associados subliminarmente a sexualidade
vitoriana. Mesmo que apresente uma franqueza com relação a sexualidade pouco
comum em se tratando de produções lançadas após o Código Hays, sobretudo na
descrição de duas senhoras dissolutas e de uma mulher que mantém uma relação
com um porteiro casado do zoológico, e que é praticamente ausente de produções
do gênero efetivadas pelo estúdio, o modo com que o Lobisomem torna vítimas
justamente mulheres que evidenciam tal conduta não apenas desdiz o diagnóstico
lançado anteriormente pelo experiente Yogami como igualmente apresenta uma
subliminar conduta moralizante e mesmo misógina. Ao incluir entre suas vítimas
uma prostituta, uma mulher que se oferece a um homem casado e uma velha
“libertina”, quase chegando a matar a mundana e fútil tia de Lisa, estar-se-ia
acenando menos para um desejo da criatura de matar o seu objeto de amor do que
talvez de matar em seu objeto de amor justamente o que talvez a identificasse
com todas as vítimas anteriores, que é o próprio desejo feminino – representado
sobretudo na autonomia de Lisa de ir contra as imposições do marido e sair com o
amigo. É evidente o quanto o filme deve ao clássico O Médico e o Monstro (1931), de Mamoulien, identidade que é
visualmente selada no momento em que morto, o monstro volta a sua aparência
inicial, porém a forma como é tematizada a questão subliminar da sexualidade
parece bem mais pudica na composição do protagonista. Outro lugar comum do
repertório dos filmes fantásticos, o que negocia a relação entre o sobrenatural
e a dimensão de um universo realista mais aparentado com o do seu potencial
espectador, é a “falsificação” voluntária do inquérito policial para mascarar
os seus aspectos mais sensacionais do grande público, que permanece indelével
ao final de um filme como A Mosca da Cabeça Branca, realizado mais de duas décadas após. Uma nova versão,
atualizando as trucagens associadas a maquiagem, seria efetivada em 1981. Universal Pictures. 75 minutos.
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