Filme do Dia: Restrepo (2010), Tim Hetherington & Sebastian Junger


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Restrepo (EUA, 2010). Direção e Fotografia: Tim Hetherington & Sebastian Junger. Montagem: Michael Levine.
Grupo da Segunda Companhia do 503 Regimento norte-americano sofre as vicissitudes da Guerra do Afeganistão, vivenciando a dura realidade de se encontrarem no cenário mais sanguinolento do conflito. Consegue levar adiante a árdua temporada, sobretudo através de um culto ao talvez mais carismático soldado do grupo, Restrepo, morto em combate.
Talvez o que exista de mais intrigante neste filme, que é o modo pouco ortodoxo que passeia entre códigos da ficção e do documentário, acaba por se transformar justamente no que menos exista de interessante. Ou seja,  ao compartilhar das estratégias de qualquer reality show televisivo tenda a banalizar sentimentos e situações vivenciadas na guerra e aparentemente reconstituídas pelos próprios homens que a vivenciaram de fato. Tanto os depoimentos dos soldados diretamente para a câmera quanto a aparente reconstituição dos eventos – é pouco crível que a maior parte do que é filmado, com toda a estabilidade de câmera e privilegiada posição de câmera – levam-no a fazê-lo soar tão ou mais em falso quanto docudramas ao estilo de O Caminho para Guantanamo (2006), de Michael Winterbotton e Mat Whitecross. Enquanto o tom marcadamente sensacionalista com que explora os sentimentos de companheirismo do grupo soam mais apelativos e convencionais do que boa parte das ficções de guerra habituais – para uma comparação perversa, basta se observar o quanto de distanciamento emocional e ausência de exploração sentimental rasa se tornam filmes como o neorrealista Paisà (1946), de Rossellini, de longe menos manipulativos emocionalmente do que a fórmula de se explorar eventos reais quase como uma plataforma para uma atualização do realismo de verve ficcional aqui destilada. Se filmes como o de Winterbotton ou experiências pioneiras como as de Peter Watkins na década de 1960 se centram numa ficção que se pretende documental aqui se adentra um terreno bem mais movediço, o da exploração de elementos da realidade com marcados parâmetros ficcionais. O resultado não poderia ser mais inócuo, pois se o teor dramático é, ao final,  grandemente neutralizado pelas estratégias referidas, única motivação legítima de um filme que pretende sobretudo apresentar os “bastidores emocionais” da tensão na frente de batalha, tampouco se fica com qualquer informação efetiva sobre o contexto histórico que propiciou o surgimento e desenrolar do conflito. Um de seus co-realizadores, Hetherington, também fotógrafo de guerra, morreria ao cobrir o conflito na Líbia menos de um ano após seu lançamento. Como na maior parte de seus equivalentes ficcionais, a representação dos afegãos é um tanto opaca e apesar da sensação de culpa expressa pelos militares após a efetivação de suas ações  que matam igualmente inocentes – numa distinção bastante difícil de ser efetivada, quando o inimigo efetivamente não é um outro exército, mas guerrilheiros enraizados em meio a população civil - a referência nos créditos finais faz menção apenas aos cerca de 50 soldados americanos mortos no conflito. Outpost Films para National Geographic Ent. 93 minutos.


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