Filme do Dia: Branco Sai, Preto Fica (2014), Adirley Queirós
Branco Sai, Preto Fica (Brasil, 2014). Direção e Rot. Original:
Adirley Queirós. Fotografia: Leonardo Feliciano. Música: Marquim do Troá.
Montagem: Guille Martins.
Documentário sobre dois jovens negros da periferia de Brasília,
vítimas da brutalidade policial em bailes e que lhes deixaram sequelas pelo
restante de suas vidas. Um deles usa uma prótese mecânica, o outro anda com
cadeira de rodas. Um terceiro, em meio ao espaço sideral, busca encontrar
informações para que os homens possam entrar com ações contra o Estado. Fazendo
uso de bastante criatividade no seu uso anárquico de alguns cacoetes associados
à ficção científica para retrabalhá-los dentro de uma ótica tributária do
anarquismo do Cinema Marginal, ainda que mais frontalmente impondo seu lugar de
fala e seu direcionamento crítico para com uma sociedade estupidamente seletiva
na exploração de seus talentos. Recusando-se a cair no discurso do vitimizado,
o documentário apresenta Marquim do Tropa, em sua residência, comandando seu
programa de rádio e estabelecendo contatos para produzir artistas da
comunidade. O outro busca aperfeiçoar não apenas a sua perna mecânica, mas a de
outros como ele. Embora a descrição do evento que culminou nas sequelas dos
dois personagens até surja na boca de um deles, o filme se encontra longe de
qualquer investigação sobre o episódio, seus envolvidos e os detalhes. De fato,
mais importante aqui é se ressaltar as cicatrizes (literais) de uma violência
física e também simbólica e sua reelaboração em termos de sociabilidade e de
práticas sociais que não se fecham sobre os próprios personagens. O
ressentimento surge explícito na fala de
Marquim da Tropa e também oblíquo no contra-discurso elaborado para o cenário
da ficção-científica e mesmo que ele por si só já justificasse as existências
de seus personagens, encontra-se longe de dominar por completo o tom do
filme. Em ambos os discursos, o da fala
dos personagens e sobretudo o da ficção-científica não falta bom humor e um
trato irônico sobre as próprias adversidades tal como a referência, no caso do
último, ao crescente conservadorismo associado às igrejas presentes na
comunidade. Existe uma versão com metragem de 133 minutos. 90 minutos.
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