Filme do Dia: As Armas (1969), Astolfo Araújo


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As Armas (Brasil, 1969). Direção e Rot. Original: Astolfo Araújo, sob argumento de Rubem Biáfora. Fotografia: Waldemar Lima. Música: Zimbo Trio. Montagem: Sylvio Renoldi. Cenografia: Enrique Ribó. Com: Mário Benvenutti, Irene Stefânia, Pedro Stepanenko, Francisco Cúrcio, Cavagnole Neto, Estanislau Graviluk, José Eduardo Amaro, Joana Fomm.
         César (Benvenutti), motorista de um homem rico que faz parte de uma organização esquerdista que sonha com a contra-revolução em plena ditadura militar, cansa-se de se arriscar para cumprir as missões pedidas por seu patrão. Recebendo um salário que acredita indigno para o nível de risco que sofre, descobre que a organização planeja gastar alguns milhões para libertar companheiros aprisionados e decide matar o seu patrão. Passa então a viver um relacionamento amoroso com a carente filha (Stefânia) dele, transferindo-se com ela para a fazenda. Ele descobre onde se encontra o dinheiro e quando decide fugir com o mesmo é morto por um dos membros da organização, que afirma para os outros que o dinheiro não se encontrava com ele.
         Embora o filme se utilize como pano de fundo dos “anos de chumbo” enquanto mero elemento figurativo para sua narrativa calcada nos efeitos convencionais dos filmes de gênero, possui como seu maior mérito a construção de um protagonista “proletário-anárquico”, a quem pouco importa distinções ideológicas, já que é um niilista que crê que o resultado final da contraposição entre direita e esquerda pouco modificará sua situação. É curioso se perceber que essa desconfiança com relação aos projetos políticos e urgência por uma transformação pode ser encontrada em obras tanto progressistas quanto conservadoras ou mesmo fascistas. Essa leitura perversa da situação de um oprimido que acaba matando um patrão engajado na corrente política considerada progressista se bate, irônica se não cinicamente, com os ideais cinema-novistas do pré-Golpe Militar (é possível, por exemplo, traçar um paralelo desse assassinato com o perpetrado pelo vaqueiro Manuel em Deus e o Diabo na Terra do Sol). Da mesma forma que seu enraizamento “pegajoso ou “invasivo” no ambiente de classe média progressista antecipa o protagonista de O Invasor de Beto Brant, o niilismo franco-atirador de César antecipa o de Adam em Cronicamente Inviável, mesmo que César ainda esboce alguma estratégia de ação, praticamente ausente no personagem de Bianchi. Tanto quanto nesses filmes realizados mais de três décadas após, o filme de Araújo (primeiro de seus cinco longas) já busca se deter em saídas individuais, mais que as propostas eminentemente coletivas do Cinema Novo.  Cumpre ressaltar ainda a boa construção atmosférica e uma certa aura epidérmica de “cinema moderno” buscada tanto na legenda que afirma sobre a condição de explorado do motorista, quanto no final em aberto e com a película em negativo (utilizado em sequências de filmes como Nosferatu, de Murnau e Alphaville, de Godard). Data Filmes. 85 minutos.

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