Filme do Dia: Eros (2004), Michelangelo Antonioni, Steven Soderbergh & Wong Kar-wai
Eros (EUA/Itália/Hong Kong/China/França/Luxemburgo/Reino
Unido, 2004). Direção: Michelangelo Antonioni, Steven Soderbergh, Wong Kar-wai.
Rot.Adaptado: Michelangelo Antonioni & Tonino Guerra baseado em conto É Perigoso Quando Tudo se Encaixa, de
Antonioni (episódio É Perigoso Quando
Tudo se Encaixa); Rot. Original: Steven Soderbergh (episódio Equilíbrio); Wong Kar-wai (episódio A Mão). Fotografia: Marco Pentecorvo ( É Perigoso Quando Tudo se Encaixa),
Steven Soderbergh (Equilíbrio) &
Christopher Doyle (episódio É Perigoso
Quando Tudo se Encaixa). Música: Enrica Antonioni & Vinicio Milani ( É Perigoso Quando Tudo se Encaixa),
Chico O´Farril ( Equilíbrio) &
Peer Raben (A Mão). Montagem: Claudio
Di Mauro(É Perigoso Quando Tudo se
Encaixa), Steven Soderbergh (Equilíbrio),
William Chang (A Mão). Dir. de arte:
Stefano Luci (É Perigoso Quando Tudo se
Encaixa), Phillip Messina (Equilíbrio)
& William Chang (A Mão).
Cenografia: Kristen Toscano Messina. Figurinos: Carin Berger (É Perigoso Quando Tudo se Encaixa),
Milena Canonero (Equilíbrio), William
Chang (A Mão). Com: Christopher
Buchholz, Regina Nemni, Luisa Ranieri (É
Perigoso Quando Tudo se Encaixa), Robert Downey Jr., Alan Arkin, Ele Keats
(Equilíbrio), Gong Li, Chang Chen,
Tin Fung, Auntie Luk, Zhou Jianjou.
É Perigoso Quando Tudo se Encaixa. Christopher (Buchholz) vive uma crise na sua relação com
Cloe (Nemni) e se sente atraído pela vizinha de ambos, Linda (Ranieri), com
quem mantém relações sexuais. Equilíbrio.
Desenhista industrial (Downey Jr.) perde o equilíbrio e vai a um analista em
busca de auxílio. Enquanto conta o mais detalhadamente que pode o sonho que
teve com sua mulher (Keats), o analista (Arkin) possui sua atenção bastante
longe do consultório. A Mão. Auxiliar
de alfaiataria, Zhang (Chen) se apaixona pela prostituta, a Senhora Hua (Li), a quem faz entregas, após ter sido
induzido a ter contatos sexuais com ela. Na decadência, Zhang é uma das poucas
pessoas que ainda a auxiliam.
Com episódios irregulares (sendo o
menos interessante e mais fora do contexto o dirigido por Soderbergh), o filme
se salva sobretudo graças ao inspirado episódio final dirigido por Kar-wai.
Como poucos cineastas contemporâneos, Kar-wai consegue uma intensidade na
descrição de seus relacionamentos (como já demonstrara em Felizes Juntos e, principalmente, Amor à Flor da Pele) justamente ao abdicar do sentimentalismo, da
dependência dos diálogos e de uma narrativa repleta de eventos. Ajuda em muito
na construção de seu universo imagético bastante expressivo a utilização pouco
ortodoxa da trilha musical, cenários, iluminação e uma fotografia esmaecida
(nesse sentido demonstrando sua dívida para com Fassbinder, fazendo uso
inclusive de uma trilha musical do autor de todas as trilhas do cineasta
alemão) e o fato de lidar com personagens completamente distantes de possuírem
qualquer apelo maior aparente no que são, ainda que a utilização de todos esses
recursos já havia sido feita de maneira praticamente igual em Amor à Flor da Pele, cujo tema também
era semelhante. O modo como Cheng consegue encarnar a paixão altruísta de seu
personagem é não menos que comovente. Outro dos méritos do filme de Kar-wai é
que o único erótico dos três episódios, e seu erotismo deriva menos de cenas
picantes, embora possua uma cena do tipo, quando o protagonista é iniciado pela
prostituta, que da delicadeza e ao mesmo tempo intensidade com que alfaiate e
prostitua se abraçam. Sua maestria, ao conseguir compor um retrato apaixonante
tanto da prostituta, que afirma que não consegue mais sobreviver de seu próprio
corpo, quanto de seu apaixonado e fiel admirador vai até a opção de um final
anti-climático em que toda a sensibilidade do jovem alfaiate se choca de
maneira atroz com a crua realidade da monotonia de seu trabalho
personificada na indagação de seu
patrão. O episódio de Antonioni, na verdade um curta dirigido pelo cineasta em
2001 e inserido nessa produção se encontra longe dos momentos mais inspirados
do cineasta, apresenta cenas de uma sexualidade aparentemente gratuita e parece
ser um irônico tributo ao que pode levar duas pessoas a vivenciaram um ato
sexual e nada mais que isso. Embora faço uso de artimanhas narrativas, cenários
e personagens da burguesia em crise que o tornaram célebre em produções
memoráveis dos anos 50 e 60, esse curta não apenas se encontra distante da
mesma densidade conseguida com tais obras como parece até mesmo ser, em certos
momentos, uma auto-paródia do cineasta com relação aos mesmos. Por fim, o algo
lacônico episódio de Soderbergh, filmado belamente em p&b (com fotografia
do próprio cineasta) em que uma tentativa de humor não chega a se concretizar
de fato. Royssi Films/Block 2 Pictures Inc./Jet Tone Films/Ipso
Facto/Solaris/Cité Films/Fandango/Delux Productions. 104 minutos.
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