Filme do Dia: Glen and Randa (1971), Jim McBride
Glen and Randa (EUA, 1971). Direção: Jim McBride. Rot.
Original: Jim McBride, Lorenzo Mans & Rudy Wurlitzer. Fotografia: Alan
Raymond. Montagem: Jack Baran & Mike Levine. Dir. de arte:
Gary Weist. Com: Steve Curry, Shelley Plimpton, Woody Chambliss, Garry Godrow.
Glen (Curry) e Randa (Plimpton) são
dois adolescentes em um mundo devastado por uma hecatombe atômica. Juntos,
partem em busca da cidade prometida de Metropolis, produto das histórias em
quadrinhos que são a principal fonte de informação e cultura para Glen. Em sua
odisséia eles encontram um grupo de sobreviventes e se tornam próximos de um
mágico itinerante (Goodrow), aninhando-se na morada improvisada do pescador
Sidney (Chambliss), onde Randa tem seu bebê. Sidney põe fogo na cabana com
Randa dentro e Glen parte para Metropolis com o filho e uma cabra.
Sem pressa para narrar sua história,
um dos elementos que mais chama a atenção nesse filme de Mcbride, são seus
longos planos, como se o momento enquadrado em cada plano, mais do que a ação
desenvolvida nele ou na relação dele com uma narrativa de propósitos definidos,
fosse o que realmente importasse. Consegue interessantes efeitos a partir dessa
opção, como o plano que observa Glen e Sidney observando o pôr do sol. Sua distopia de se vagar por um mundo repleto
de detritos de uma sociedade industrial pode igualmente se enquadrar como uma
ressaca da geração hippie e paralelos
podem ser traçados com outros filmes de deambulação do período, inclusive do
cinema brasileiro (Orgia ou o Homem que Deu Cria, mesmo que no filme de Trevisan exista uma dimensão alegórica mais
forte que aqui). O tom canhestro da interpretação de seu par principal em
acentuado contraste com a dos veteranos Chambliss e Godrow tampouco importa, já
que se torna conivente com seu universo ficcional, sendo o casal mais jovem
crias de um universo pós-hecatombe, enquanto os velhos ainda teriam usufruído
dos bens da civilização, portanto mais
civilizados e articulados. Esse tom amador se estende para a própria filmagem,
onde equipamentos de captação de som e da própria imagem se tornam por vezes
parcialmente visíveis. Em termos de narrativa, sua recusa a cumprir com as
expectativas comuns do gênero, sendo que a ficção-científica vivenciava então
um período de destaque, foi fundamental para seu fracasso de público e
indiferença da crítica quando de seu lançamento. Assim, sua ausência de trilha
sonora e de traçar qualquer perfil psicológico dos personagens em questão
solapa com qualquer processo de identificação convencional, e as elipses – como
a que explica o motivo para a queima da cabana com a mulher dentro (morta no
parto?) – parecem flertar mais com o cinema autoral europeu. O fato da cidade
prometida a Glen pelas histórias em quadrinhos se chamar justamente Metropolis
é uma explicita ironia com o universo da ficção científica, já que é igualmente
o título de um dos maiores clássicos do gênero. Ironias também são lançadas a
possibilidade de se desenvolver uma veia romântica ou erótica entre o casal
principal – comum nas investidas do cinema em situações semelhantes desde
Tarzan até A Lagoa Azul, quando Glen
indaga após ver algo semelhante nos quadrinhos e de forma mecânica se Randa o
ama, algo que aquela nem sequer chega a levar em conta. A nudez do casal ao
início, por exemplo, é completamente dessexualizada, justamente num período em
que o cinema começava a investir cada vez mais no filão da descoberta do corpo
como atrativo sensual. Tampouco deixa de ficar evidente sua misoginia, sendo a
mulher não apenas inferior enquanto completamente iletrada, como em seu desaparecimento
final, ficando apenas a presença de homens de três gerações distintas – o filho
de ambos também é do sexo masculino. Fundamental para o ritmo do filme são os
longos fades que entremeiam seus
planos. UMC. 93 minutos.
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