Filme do Dia: Sob o Sol de Roma (1948). Renato Castellani




Sob o Sol de Roma (Sotto Il Sole di Roma, Itália, 1948). Direção: Renato Castellani. Rot. Original: Sergio Amidei, Renato Castellani, Emilio Cecchi, Ettore Maria Margadonna & Fausto Tozzi. Fotografia: Domenico Scala. Música: Nino Rota. Montagem: Giuliano Betti. Com: Oscar Blando, Liliana Mancini, Francesco Golisano, Ennio Fabeni, Alfredo Locatelli, Gaetano Chiurazzi, Anselmo Di Biaggio, Ferrucio Tozzi, Maria Tozzi, Gisella Monaldi, Alberto Sordi, Ilario Malaschini.
Nos anos de guerra, Ciro (Blando) é um jovem de 17 anos que vive se aventurando com os amigos para a ira de sua mãe (Maria Tozzi). Proveniente da classe trabalhadora, sua grande lembrança da juventude foi o sapato caro presenteado pelo pai (Ferrucio Tozzi), vigilante.  Numa de suas aventuas descobre um garoto que alcunha de Geppo (Golisano), que mora no Coliseu. Juntos vão se banhar em um rio e Ciro perde os sapatos, não tendo coragem de voltar para casa. Quando reaparece, é presenteado com novos sapatos pela vizinha Iris (Mancini), que é apaixonada por ele. Eles se tornam enamorados, mas enquanto se encontra refugiado na casa de Iris para não ser convocado para a guerra, Ciro dá uma escapadela e se torna prisioneiro dos alemães, que acreditam que ele e Geppo são soldados britânicos. Com a prisão bombardeada os dois conseguem fugir. Ciro descobre, no entanto, que a mãe morreu enferma em um hospital. A relação com Iris se encontra estremecida desde o seu envolvimento com a matrona Tosca (Monaldi). Os garotos tentam chantagear Tosca, que é casada com Fernando (Sordi), ex-sapateiro com o qual os garotos já haviam se enrascado certa vez, mas Iris entrega as cartas de amor dela para Ciro. Ciro envolve com a ação de outro de seus amigos, Pirata (Malaschini), de assaltar pneus, e na ação seu pai é morto pelos amigos. Órfão, ele agora terá que finalmente assumir todas as responsabilidades que sempre negara, inclusive no cuidado de seus irmãos mais novos.
Talvez o que mais salte aos olhos nesse que é o primeiro de  uma trilogia cômica dirigida pelo diretor, seja o quanto Castellani precocemente já encapsula, para o bem ou mal, muito da atmosfera de uma certa visão do lumpem-proletariado italiano dentro das convenções de gênero, criando um filme onde a igualmente precoce visão retrospectiva dos anos da guerra consegue servir como esteio para todos os clichês sobre o “modo de ser italiano” que serão fartamente explorados posteriormente por realizadores de igual ou maior talento, sobretudo Federico Fellini (de Os Boas Vidas a Amarcord). De fato todos os temas dos filmes de nostalgia fellinianos já se encontram aqui, apresentados igualmente sob a forma de sketch, como a matrona gulosa por adolescentes, o sentimento de culpa e de amadurecimento forçado com a morte do pai, a homosociabilidade adolescente (ganhando laivos, inclusive, subliminarmente homoeróticos, no caso da irrestrita devoção de Geppo ao protagonista) e a presença da voz over a pontuar toda a narrativa. Da tradição do cinema italiano que antecede o Neorrealismo o filme faz uso bastante benéfico do que talvez seja a sua maior virtude, os atores amadores que, de uma maneira geral, não seguirão muito longe em suas carreiras, como é o caso do carismático Blando, assim como do uso das locações. Ao buscar representar o ponto de vista de um jovem adolescente semi-letrado consegue se evadir de qualquer referência política mais explícita enquanto, como toda a tradição cômica do pós-guerra, não deixa de ser bastante simpático para o chauvinismo empostado de seu protagonista, que rapidamente consegue reverter a situação que lhe é adversa, mas que no primeiro sufoco sério que passa – como quando sabe que a cidade se encontra bombardeada – não deixa de sair correndo atrás das mulheres que são os seus reais alicerces. O que de fato o diferencia de realizadores como Fellini, embora tenha antecipado muito de seus temas como visto, é que esse acabou criando um estilo visual próprio. Universalcine. 95 minutos. 

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