Filme do Dia: Marat/Sade (1967), Peter Brook
Marat/Sade
(Reino Unido, 1967). Direção: Peter Brook. Rot. Adaptado: Adrian Mitchell,
baseado na peça de Peter Weiss. Fotografia: David Watkin. Montagem: John Priestley.
Dir. de arte: Sally Jacobs & Ted Marshall. Figurinos: John Hales, Lynn Hope
& Gunilla Palmstiern-Weiss. Com: Patrick Magee, Ian Richardson, Michael
Williams, Clifford Rose, Glenda Jackson, Freddie Jones, Hugh Sullivan.
No hospício de Charenton, o Marquês de Sade (Magee) dirige
uma peça que tem como tema, o assassinato de Jean-Paul Marat (Richardson),
líder da Revolução Francesa, por Charlotte Corday (Jackson).
Árida adaptação cinematográfica da célebre peça de Weiss. Há
uma elegância visual no fluido trabalho de câmera, mas ainda assim tudo se
sustenta (ou não, dependendo do caso) a partir dos diálogos e canções encenadas
num palco com alguns poucos recursos coreográficos e a presença de uma grade
que o separa da platéia na penumbra. Aliás, talvez o mais interessante do filme
seja menos sua aguda e irônica percepção ideológica dos eventos retratados que
o jogo de espelhamentos criados a partir dessa divisão entre público e o que é
encenado, em nenhum momento deixando que se esqueça se tratar de fato de uma
representação, ao mesmo tempo em que mescla na representação do público, a
possibilidade de se tratar da peça de Sade, de Weiss e do público do próprio filme.
Nesse sentido, ao apresentar a certo momento, membros da platéia abandonando o
espetáculo, ironicamente estaria espelhando a potencial rejeição do público
pelo próprio filme. Sem concessões, Brook manda às favas qualquer pretensão de
realismo (indo muito além, neste sentido, da proposta da trilogia dirigida por
Lars Von Trier). Não apenas os cenários não buscam qualquer pretensão realista
quanto os próprios personagens são evocados a todo momento enquanto tais,
utilizando-se de estratégias narrativas próximas de Brecht, igualmente na
utilização das canções, algumas delas com letras bastante engenhosas em sua
pretensão cômica. Há certamente muita influencia da atmosfera contestatória
contemporânea na sua aberta simpatia pela anarquia das rudes plebes revolucionárias,
tampouco deixando de estender sua ironia às próprias plebes e no seu desfecho de
violência catártica e completamente destituído de telos. O resultado final,
ainda que árduo, recompensa os resistentes com alguns engenhosos momentos de
humor que procuram amenizar o radicalismo da proposta. Brook, cineasta
bissexto, voltaria a realizar uma produção com certa notabilidade com sua
adaptação do Mahabarata. Jackson,
estonteantemente bela como Corday, a
assassina de Marat, foi descoberta por Weiss na montagem teatral. Marat/Sade Prod./Royal
Shakespeare Co. para United Artists. 116 minutos.
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