Filme do Dia: Dançando no Escuro (2000), Lars Von Trier
Dançando no Escuro (Dancer in the Dark , Dinamarca/Alemanha/Holanda/EUA/Reino Unido/França/Suíça/Finlândia/Islândia/Noruega, 2000). Direção e Rot. Original: Lars von Trier. Fotografia: Robby Müller. Música: Björk. Montagem: François Gédigier & Molly Marlene Stensgård. Dir. de arte: Karl Juliusson & Peter Grant. Cenografia: Nicola Hewitt. Figurinos: Manon Rasmussen. Com: Björk, Catherine Deneuve, David Morse, Peter Stormare, Udo Kier, Joel Grey, Vincent Paterson, Cara Seymour, Jean-Marc Barr, Vladan Kostic, Stellan Skarsgård, Paprika Steen.
Selma Yeskova (Björk) é uma refugiada tcheca que vive em um trailer alugado do casal americano Bill (Morse) e Linda (Seymour). Sua maior preocupação é conseguir dinheiro para que seu filho, Gene (Kostic), não venha a sofrer do mesmo mal genético que afeta sua visão. Trabalhando arduamente numa fábrica e ensaiando em uma versão teatral amadora de A Noviça Rebelde, sempre se deixa levar pelo ritmo sonoro do ambiente para imergir em um mundo de fantasia. Mesmo ajudada pelos amigos Kathy (Deneuve) e Jeff (Stormare), Selma não consegue permanecer no emprego, que exige um nível de concentração que ela não consegue dar conta, recebendo a notícia do chefe de seção, Norman (Barr). Para piorar a situação, no mesmo dia que é despedida descobre que fora roubada por Bill, que se encontra em dificuldade financeira. Vai até sua casa e, sob a própria ordem de Bill, mata-o. Condenada à morte, consegue um advogado que lhe assegurará uma nova pena, já que Jeff conseguiu descobrir seus contatos com o oftalmologista para a realização da cirurgia do filho. Porém, o dinheiro que vai pagar os honorários do advogado é o mesmo que iria realizar a cirurgia do filho. Selma opta pela morte.
Trier partindo dos elementos mais básicos do melodrama, consegue dar um sopro de vida que vai muito além do usual, ao explicitar o econômico e o ideológico como protagonistas do desenlace final, mesmo que sob pena de deixar parcialmente de lado um maior realismo e verossimilhança – por exemplo, na ausência da mídia e da opinião pública sobre o caso. Seu tom anti-americano – já explicitado no nome do próprio americano típico, Bill e na sua caricatura da feliz classe média americana e da paranoia anti-comunista, que são alguns dos poucos elementos a dar uma certa precisão histórica à narrativa– não deixa de, por outro lado, render seu tributo à cultura americana – Selma é fã do musical e do sapateado a la Busby Berkeley. De modo bastante instigante, Trier quebra com muitos momentos de clímax dramático ao introduzir os números musicais que correspondem às fantasias de Selma. Particularmente, em um deles, ocorrido logo após o assassinato de Bill, torna-se interessante como justamente o momento de maior fantasia – o sonho de Selma, Bill e sua mulher vivendo em uma situação de amor idílico – também desmascarando os artifícios da ficção – Bill, que há pouco fora visto com o rosto completamente desfigurado, lava-se na pia sorridente e percebemos nitidamente que o sangue não passa de tinta. Vários são os pontos em comuns com outro bom filme de Trier, Ondas do Destino: a câmera na mão e oscilando entre um e outro ator; a personagem feminina mártir e um tanto quanto esquizoide e desprotegida; a importância da amizade de outra mulher. Trier possui um domínio do ritmo narrativo e de como trabalhar com o tempo de uma forma bastante diferenciada do cinema padrão (percebido já a partir do início, com um extenso prólogo em tela negra, que faz referência a própria dificuldade de visão da protagonista.) A intensidade do desempenho dos intérpretes, sobretudo de Björk, em excelente interpretação (que lhe rendeu a Palma de Ouro em Cannes) lembra a intensidade das interpretações dos filmes de Cassavetes. Trier já havia demonstrado sua habilidade na direção de atores, sobretudo de mulheres, como Katrin Carlidge, assim como em Ondas do Destino e Os Idiotas. Boa parte do elenco de apoio de outros filmes do cineasta também reaparece aqui. Paprika Steen, que tivera maior destaque em outros filmes, aqui tem uma rápida aparição como a chefe do setor da noite. Skarsgaard, que co-protagonizou Ondas do Destino, faz uma ponta como médico. Joel Grey também faz uma breve aparição na pele do dançarino tcheco que Selma admirava na infância e que ela afirma ser seu pai. Zentropa Entertaneiment/Trust Film Svenska/Film i Väst/Libertator Productions/Pain Unlimited GmbH Filmproduktion/Cinematograph A/S/What Else? B.V./The Icelandic Film Co./Blind Spot Pictures/France 3 Cinéma/DR/arte /SVT DramaFrance Cinéma/arte/Angel Films S/A/Canal+/Filmfour/Constantin Film Produktion GmbH/Lantin Cinema & Audivisi/TV 1000/VPRO Television/WDR/YLE. 140 minutos.
Que boa lembrança (e critica) !
ResponderExcluirSempre bom ler suas publicações!
= )
Muito obrigado, Leda! Seja sempre bem vinda!
ResponderExcluir