Filme do Dia: O Barba Ruiva (1965), Akira Kurosawa


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O Barba Ruiva (Akahige, Japão, 1965). Direção: Akira Kurosawa. Rot. Adaptado: Masato Ide, Ryuzo Kikushima, Akira Kurosawa & Hideo Oguni, baseado no romance Akahige Shinryotan, de Shugoro Yamamoto. Fotografia: Asakazu Nakai & Takao Saitô. Música: Masaru Satô. Dir. de arte: Yoshirô Muraki. Figurinos: Yoshiko Samejima. Com: Toshirô Mifune, Yuzo Kayama, Tsotumo Yamazaki, Reiko Dan, Miyuki Kuwano, Kyôko Kagawa, Tatsuyoshi Ehara, Terumi Niki.
Século XIX. Yasumoto chega em um hospital de caridade da província proveniente de Nagasaki e inicialmente detesta a opção ao qual foi indicado, sem nenhuma chance de conquistar brilho em sua carreira. Subordinado ao circunspecto Dr. Niide (Mifune), conhecido como Barba Ruiva, ele se nega a seguir a hierarquia do serviço. Após acompanhar o caso de dois pacientes que morrem, Yasumoto se envolve como nunca com a adolescente Tomoyo (Niki), retirada de um bordel quando se encontrava doente. Após cuidar da agressiva Tomoyo, o próprio Yasumoto é acamado e cuidado por ela. A dona do bordel, ao encontrar ocasionalmente Tomoyo a pretende levar de volta, mas Niide e Yasumoto a impedem. Yasumuto nega o pedido de se tornar médico do shogunato, preferindo permanecer no hospital.

Esse longevo filme de Kurosawa, última colaboração do realizador com Mifune, que havia ajudado a celebrizar em seus filmes, mesmo se afastando das batalhas espetaculares presentes em alguns de seus filmes mais famosos (Kagemusha, Ran), tampouco deixa de assinalar sua opção por uma tradição dramática mais romanesca e sentimental do que, por exemplo, a de um realizador como Kobayashi. Os dramas e opções dos personagens parecem quase exclusivamente marcados por suas decisões e sentimentos pessoais onde a força da tradição e da coletividade, ao contrário de Mizoguchi, ganha pouca relevância. Desde o seu início o filme parece marcado pela óbvia tomada de consciência de seu protagonista e sua metamorfose de egocêntrico preocupado somente com sua carreira a um ser humano pleno. É construída  tal conversão do modo mais convencional possível aonde não falta uma trilha musical orquestrada, ao contrário da utilizada por Kobayashi em filmes contemporâneos (tais como Rebelião e As Quatro Faces do Medo) e a construção de tiques para os personagens, como o gesto característico de Barba Ruiva coçando sua barba. Para satisfazer os fãs de Mifune em filmes com maior presença de ação física não falta uma seqüência em que Barba Ruiva enfrenta praticamente todos os homens da localidade sozinho e os destroça a todos para carregar Tomoyo consigo – essa dimensão over dos heróis do cinema nipônico, também presente em Kobayashi, será enfatizada ao nível da paródia por cineastas como Takeshi Kitano. Tampouco o filme deixa de se enredar em subtramas dispensáveis, como a do garoto que rouba e ganha proteção de Tomoyo, que não possuem outra função que demarcar de vez o bom coração dessa. Dito isso, há de se fazer jus ao excelente trabalho de iluminação e ao uso do silêncio como elementos dramáticos importantes, senão fundamentais. Kurosawa Prod. Co. & Toho para Toho. 180 minutos. 

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