The Film Handbook#70: Cecil B.DeMille



Cecil B.DeMille
Nascimento: 12/08/1881, Asfield, Massachussets, Califórnia
Morte: 21/01/1959, Hollywood, Califórnia, EUA
Carreira (como diretor): 1913-1966

Nos filmes de entretenimentos espetaculares de Cecil Blount DeMille, a história é secundária. É como se, através de sua carreira, os eventos factuais, clássicos ou mesmo os que dizem respeito a Deus fossem repetidamente recrutados meramente para emprestar uma falsa respeitabilidade para apresentar sexo, violência e comportamento libertino em geral nas telas.

DeMille seguiu seus parentes (seu pai foi um ministro episcopal) rumo ao teatro, onde ele logo encontrou Jesse Lasky. Em 1913, com Samuel Goldfish (posteriormente Goldwyn), viajou para Hollywood, um então obscuro vilarejo californiano, para filmar o primeiro longa de De Mille, Amor de Índio/The Squaw Man. Um western sobre um lorde inglês que se casa com uma índia, seu sucesso ajudou a por Hollywood no mapa do cinema, enquanto em 1918 a companhia de Lasky se tornava a Paramount, o estúdio para o qual DeMille trabalharia a maior parte de sua carreira.Trabalhando ao mesmo tempo numa diversidade de gêneros, DeMille contribuiu para o desenvolvimento de técnicas cinematográficas, especialmente no reino da iluminação e dos cenários exóticos e atmosféricos de dramas de época como Carmen, Joana D'Arc - A Donzela de Orléans/Joan the Woman e A Mulher Que Deus Esqueceu/The Woman God Forgot>1. Esse último uma história de romance e conflito religioso entre uma tribo guerreira asteca e os conquistadores espanhóis e, apesar de completamente mudo, estrelado pela cantora de ópera Geraldine Farrar.

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Adotando uma pose apropriadamente a la Sansão, o realizador épico por excelência Cecil B.DeMille

A reputação de DeMille como criador de épicos sinistros e sensacionalistas frequentemente representou que seus consideráveis talentos narrativos foram subestimados pela crítica. De fato, antes de embarcar nos grandiosos espetáculos que se tornaram sua marca registrada, realizou uma série de engenhosas comédias conjugais, frequentemente estreladas por Gloria Swanson como sua incomum heroína independente e sutilmente satirizando os códigos morais da alta sociedade americana. Entretanto, o borbulhar de adultério, ciúmes e flertes generalizados no comportamento observados em seus personagens foi compensado com títulos puritanos como Don't Change Youir Husband, Why Change Your Wife? e O Fruto Proibido/The Forbidden Fruit, assim como por cautelosos flashbacks históricos. Em Macho e Fêmea/Male and Female>2, por exemplo, Swanson, apaixonada por seu mordomo, sonha que que se encontra na Antiga Babilônia, onde descobre - e aqui reside a prédica moral - que a posição de uma mulher infiel era, de um modo geral, mais perigosa no passado.

Por todo os extravagante detalhes dos seus cenários espalhafatosos e figurinos frequentemente sumários que se seguiram (incluindo a primeira versão de Os Dez Mandamentos/The Ten Commandments e Rei dos Reis/King of Kings), a autenticidade histórica frequentemente ficava em segundo plano em favor do espetáculo delirante, frequentemente acompanhado de uma admoestação moral no último minuto. O Sinal da Cruz/The Sign of the Cross>3 diz respeito menos aos conflitos religiosos e políticos entre romanos e cristãos que as orgias nababescas promovidas pelo Nero de Charles Laughton; os leões, igualmente, raramente ficam famintos. Porém, apos o fracasso relativo de Cleópatra, DeMille voltou sua atenção para o próprio passado da América com uma série de enérgicos westerns; apesar dos personagens serem algumas vezes extraídos da vida real - Wild Bill Hickcock e Calamity Jane em Jornadas Heroicas/The Plainsman>4, romance e chauvinismo patriótico ganham ascendência sobre o realismo. Em Aliança de Aço/Union Pacific, Legião de Herois/Northwest Mounted Police e Os Inconquistáveis/Unconquered seu principal interesse foi em seguir as claras diretrizes de uma história simples e celebrar o espírito pioneiro que domesticava os índios e conquistava o Oeste.

Nos últimos anos de sua vida, DeMille trabalhou menos frequentemente e de forma menos criativa, apesar de após do tedioso épico circense O Maior Espetáculo da Terra/The Greatest Show on Earth, a exagerada fanfarronice de Sansão e Dalila/Samson and Delilah ser considerado como um alívio bem vindo. Mais impressionante, no entanto, foi seu último filme, Os Dez Mandamentos/The Ten Commandments>5, firmemente materialista em sua concepção de Deus, que manifesta a si Próprio não através da salvação e como guia dos espíritos humanos mas através de uma vívida e miraculosa manipulação do mundo físico. Aqui, fumaça colorida, sarças ardentes e mares divididos e - quando Moisés retorna com os mandamentos gravados em pedra, por um raio naturalmente - o choque de Charlton Heston de cabelos esbranquiçados oferece uma prova tangível de Seu poder. Os valores do Velho Testamento encontram o melodrama vitoriano e os modernos efeitos especiais. De fato, DeMille nunca foi um realizador sofisticado, mas sua longa, profícua e a maior parte bem sucedida carreira é notável pelo modo que fez uso  tanto da obra Deus quanto  do Demônio em seu próprio partido.

Cronologia
DeMille foii menos interessado em poesia pictórica, para não mencionar pureza moral, que Griffith, embora seu amor pelo espetáculo extravagante e enredos simples tenha sido copiado por virtualmente todos os épicos poteriores, talvez mais notavelmente em anos recentes nos filmes de Spielberg e Lucas.

Destaques
1. A Mulher Que Deus Esqueceu, EUA, 1919 c/Geraldine Farrar, Wallace Reid, Theodore Kozloff

2. Macho e Fêmea, EUA, 1919 c/Gloria Swanson, Bebe Daniels, Thomas Meighan

3. O Sinal da Cruz, EUA, 1932 c/Charles Laughton, Claudette Colbert, Fredric March

4. Jornadas Heroicas, EUA, 1936 c/Gary Cooper, Jean Arthur, James Ellison

5. Os Dez Mandamentos, EUA, 1956, c/Charlton Heston, Yul Brinner, Edward G. Robinson

Fonte: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 73-5.

Comentários

  1. Excelente postagem. Dois filmes dele já assisti, mas vou guardar as dicas dos demais. O que é muito complicado para mim é que ainda não encontrei nem uma locadora e nem um site que nos forneçam essa pérolas dos tempos idos.
    Se souber me passa a dica!

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  2. Oi Malu, muito grato pelo comentário. Trata-se de tradução de um crítico inglês que admiro, Geoff Andrew. Então, com o fim das locadoras e as tvs - inclusive a cabo - com programação tão ruim,
    acho que sobra apenas a alternativa dos dvds, blu-rays e, principalmente internet. No próprio you tube tem bastante coisa, mesmo que a qualidade da imagem e som esteja longe de ser das melhores. De sites tem o MakingOff, que tem bastante coisa, com legendas em português sempre, só que para fazer parte dele tem que ser com convite ou em alguma promoção de final de semana muito ocasional. e não sei como fazer o convite para não-membros. e tem os outros de língua inglesa como The Pirate Bay, KickAss Torrents...raramente vou atrás de sites específicos de filmes de determinado período ou realizador. Abraço!

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