Filme do Dia: Ninguém Pode Saber (2004), Hirokazu Kore-Eda
Ninguém
Pode Saber (Dare mo Hirandi, Japão,
2004). Direção, Rot. Original e Montagem: Hirokazu Kore-Eda. Fotografia: Yutaka
Yamasaki. Música: Titi Matsmura & Gonzalez Mikami. Dir. de arte: Toshihiro
Iromi & Keiko Mitsumatsor. Com: Yûya Yagira, Ayer Kitoura, Hiei Kimura,
Mimoko Shimizu, Hanoe Kan, You, Kazumi Kushido, Yukiko Okamoto.
Akira (Yagira) é um jovem adolescente que subitamente se vê
responsável pelos irmãos ainda mais novos, Kyoko (Kitoura), Shigeru (Kimura) e
Yuki (Shimizu), depois que a mãe Keiko (You), os abandona em um apartamento por
períodos cada vez mais longos e desaparece sem dar notícias por meses. Passando
por um processo de degradação econômica, moral e até mesmo física, Akira busca
a ajuda do pai, que tampouco possui como ajudá-lo. Dispensa a ajuda da amiga
Saki (Kan), que se prostitui para lhe arranjar algum dinheiro e conta com a
ajuda de um dos funcionários de um supermercado que costumava comprar as coisas
quando a mãe ainda lhe enviava dinheiro. Decide romper com o trato acordado com
a mãe de esconder as crianças a qualquer custo, já que só é permitido por lei a
presença de uma única criança no apartamento em que vivem, levando certo dia
todos os irmãos para as compras. Enfrenta o duro golpe da morte da mais jovem,
Yuki, após uma queda. Com Saki a leva de mala até os arredores do aeroporto de
Tóquio, onde a enterra.
A força e pungência desse drama derivam principalmente da
maneira decididamente anti-sentimental com que o realizador estrutura sua
narrativa e um certo senso de elipse somado ao brilhante trabalho do jovem
elenco, com destaque para a intensidade com que o protagonista vivido por
Yagira consegue extrair de seu papel partindo de uma grande contenção emocional
(tendo, inclusive, ganho o prêmio de ator em Cannes). Embora fique implícita a
simpatia do realizador por seus retratados, o filme se afasta de qualquer
julgamento moral de matiz melodramático, demonstrando também aqui sua dívida
para com o cinema autoral moderno. Com a intensificação da situação dramática
vivida pelos personagens o filme chega a se aproximar de cenas de apelo mais
fácil, ainda que sem nunca perder um senso de dignidade para com os retratados,
incorporando também mais intensamente a música enquanto comentário para as
situações vividas, praticamente ausente da primeira metade do filme. Trata-se
também do momento que incorpora mais “pequenas aventuras” no roteiro, sendo que
algumas delas não chegam realmente a funcionar ou possuir qualquer
desenvolvimento posterior (como é o caso do interesse de Akira pelo baseball) como que temendo a provável
reprovação de um espectador cansado pela ausência de elementos dramáticos de
sua primeira metade. Também tinge de dramáticos elementos anteriormente
utilizados com função histriônica, como é o caso da sandália sonora de Yuki,
responsável pelo momento mais potencialmente cômico do filme, quando caminha ao
lado do irmão por uma rua deserta, transformada em sensação de luto e perda
quando Akira põe a sandália já sobre o corpo inerte da irmã. Talvez a cena mais
intensa do filme e que teria resultado como melhor fecho para o mesmo seja a do
trem de superfície em que se afastam Akira e Saki após o enterro de Yuki, como
que os posicionando dentro de uma escala social bem mais ampla e, a rigor,
indiferente aos seus dramas pessoais. Pode-se até mesmo pensar numa possível
metáfora crítica sobre as relações desiguais entre nações em um mundo
globalizado, ainda que tal perspectiva menos renda que faça diminuir a situação
específica retratada. Bandai Visual Co./Cine Qua Non Films/Engine Films/Nobody
Knows Project/c-style. 141 minutos.
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