Filme do Dia: More (1969), Barbet Schroeder


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More (More, Al. Ocidental, 1969). Direção: Barbet Schroeder. Rot. Original: Paul Gégauff & Barbet Schroeder, a partir de argumento do último. Fotografia: Nestor Almendros. Música: Pink Floyd. Montagem: Denise de Casabianca & Rita Roland. Dir. de arte: Nestor Almendros & Fran Lewis. Com: Klaus Grünberg, Mimsy Farmer, Heinz Engelmann, Michel Chanderli, Henry Wolf, Louise Wink, Georges Montant.
Stefan Brückner (Grünberg) é um matemático alemão que resolve ganhar o mundo, tendo o vago pretexto de ir ao Marrocos. Ele conhece Charlie (Chanderli), que vive de pequenas trapaças e, numa festa, Estelle Miller (Farmer), a quem Charlie havia advertido de se manter distante. Stefan consegue uma quantia razoável de dinheiro, de um roubo que pratica com Charlie. Estelle afirma que está partindo para Ibiza, e que ele a procure por lá, perguntando por Ernesto Wolf (Engelmann). Stefan vai morar com Estelle, numa ilha deserta, fugindo de Wolf, de quem Estelle furtou 200 doses de heroína. Ela faz com que Stefan se vicie na droga. Charlie o encontra em situação deplorável e tenta levá-lo de volta a Paris, mas Stefan morre de overdose.
Talvez o único elemento que chame a atenção neste filme de Schroeder seja que, no auge do entusiasmo libertário com as drogas, ele apresente uma perspectiva pessimista, culminando na auto-destruição. Dito isto, o filme torna-se presa de sua própria inocuidade. A partir de elementos típicos de um cinema autoral europeu – e logo também norte-americano – como um protagonista sem objetivo muito bem definido, Schroeder busca alguma sensação através do triângulo drogas, sexo & rock´’n roll (este último, a cargo de uma trilha original composta pelo Pink Floyd). É bem verdade que solapa com qualquer tentativa de se vivenciar uma aventura de cores tão intensas quanta as de alguns dos filmes roteirizados por Gégauff (a exemplo de O Sol por Testemunha). Porém, tampouco deixa de explorar o lado “sensacional” do vício tão alardeado pelo cinema, mesmo que mais subrepticiamente do que de forma tão explicíta quanto alguns filmes que o precederam (O Homem do Braço de Ouro) ou o procederam (Trainspotting), já que  é efetivamente drenado por um distanciamento dramático de tudo que é apresentado. Estelle parece sugerir a pista para o espírito do filme, algo que reflete um pouco a sua própria auto-representação entre a utopia libertária coletiva do movimento hippie proporcionada por drogas como a maconha e o LSD e o pessimiso isolacionista e persecutório dos junks. Evidentemente, o que pode ser esboçado como algo em direção ao primeiro movimento – a libertação do cotidiano, a experiência inicialmente paradisíaca e naturista na ilha deserta – descamba rapidamente para o segundo, sem que se se possa se sentir verdadeiramente condoído pelo rumo das coisas, tal o nível de gratuidade da trama e a precária interpretação do elenco. É igualmente neste segundo momento que ocorre o desvelar de que os piores inimigos a temer pelo casal são menos Wolf e seus comparsas do que eles próprios, como que demarcando que o filme não pretende ingressar numa história de aventura como alguns poderiam até esperar, mas sim permanecer ao lado de seus aborrecidos personagens duplamente chapados, no sentido de drogados mais também de rasos e sempre observados a partir do exterior, não carecendo de qualquer psicologismo para explicar suas motivações. Schroeder, além de ocasionalmente dirigir documentários, produziu igualmente diversos filmes de Eric Rohmer e um de Fassbinder (Roleta Chinesa) e também tem atuado como ator em filmes de outros cineastas. Jet Films/Les Films du Losange. 117 minutos.


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