Filme do Dia: Inverno de Sangue em Veneza (1973), Nicolas Roeg
Inverno
de Sangue em Veneza (Don´t Look Now,
Reino Unido/Itália, 1973). Direção: Nicolas Roeg. Rot. Adaptado: Chris Byrant
& Allan Scott, baseado no conto de Daphne du Maurier. Fotografia: Anthony
B. Richmond. Música: Pino Donaggio. Montagem: Graeme Clifford. Dir. de arte:
Giovanni Soccol. Cenografia: Francesco Chianese. Figurinos: Marit Allen &
Andrea Galler. Com: Julie Christie, Donald Sutherland, Hilary Mason, Clelia
Matania, Massimo Serato, Renato Scarpa, Giorgio Trestini, Leopoldo Trieste.
John Baxter (Sutherland) viaja com a esposa Laura
(Christie) à Veneza, para comandar a reforma de uma igreja a pedido do bispo
Barbarrigo (Serato). Logo, no entanto, uma série de fatos estranhos começam a
se suceder, como misteriosos assassinatos e a amizade de Laura com duas irmãs de
meia-idade Heather (Mason) e Wendy (Matania), que ela acredita possuírem
poderes mediúnicos. John, assustado com o efeito sobre a esposa, que já se
encontrava em vias de superar o trauma da perda da filha por afogamento, sofre
um acidente quando encontra-se no trabalho, enquanto a esposa retorna à
Inglaterra para visitar o filho, que sofreu um acidente na escola. Assustado,
Baxter presencia uma cerimônia fúnebre em que Laura é acompanhada por Heather e
Wendy. Procurando ajuda na polícia, ele encontrará um estranho investigador,
Longhi (Scarpa), que prefere que o próprio Baxter inicie a investigação. Logo,
para seu completo espanto, ele comprovará que Laura encontra-se na Inglaterra.
Encontrando Heather, uma das irmãs cegas na delegacia, Baxter a levará até seu
apartamento. Porém, logo que ela chega, passa a ter convulsões violentas,
gritando por seu nome. Ainda assustado, persegue alguém que acredita ser sua
filha, mas que se revelará ser uma anã que lhe assassina. Laura, que não
consegue adentrar o portão da casa onde ocorre o crime, participa da cerimônia
fúnebre ao lado de Heather e Wendy.
Mesclando elementos dos filmes de ação, suspense e
terror, Roeg realizou sua primeira incursão no universo hiper-realista, cujo
estranhamento ainda seria mais burilado em filmes como o inferior O Homem Que Caiu na Terra e Bad
Timing (1980). Embora adaptado de um conto de Maurier, habitualmente adaptada
pelo cinema clássico americano, o cineasta aproxima sua adaptação de seu
universo particular, mesmo que seja percebida a nítida influência de filmes
como O Bebê de Rosemary (1968), de
Polanski, na mescla de paranoia e terror sobrenatural em um ambiente
contemporâneo. Porém, ao contrário do filme do cineasta polonês, muitas vezes a
busca de estranhamento de Roeg soa forçada – como o diálogo e a postura
estranhas do investigador – enquanto em outras ele consegue criar uma atmosfera
peculiar. Graças a sua narrativa fragmentada e esquizoide, somente depois
perceberemos que John Baxter visualizou a sua própria cerimônia fúnebre. Seu
grande trunfo é justamente a forma magistral que o cineasta interconecta
passado (nas sequências que aparecem a filha do casal ainda viva), presente e
futuro, utilizando-os como apoio para a descrição dos medos e ansiedades comuns
a todos os mortais. Igualmente referencia A Hora do Lobo
(1968), de Bergman. Casey/Eldorado Films. 110 minutos.
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