Filme do Dia: Flaming Creatures (1963), Jack Smith




Flaming Creatures (EUA, 1963). Direção: Jack Smith.
O radical caráter transgressivo desse curta experimental de um dos ícones do cinema underground norte-americano talvez se torne menos interessante por si mesmo, do que pela teia de referências com as quais pode ser associado. Com uma tremida câmera na mão e fotografia de péssima qualidade, destacando os tons brancos, existe de tudo um pouco. Das figuras de submundo que fazem com que as superstars de Warhol  ganhem uma insuspeita aura de glamour, que como em Warhol, canibalizam as influências do cinema hollywoodiano clássico de forma paródico-grotesca às canções pop - que também eram onipresentes nas obras de Kenneth Anger – e latinas. Da nudez mais agressiva e menos paródica que a dos Irmãos Kuchar ao tom explicitamente amador de seu referido trabalho de câmera, assim como das “interpretações”, que sugerem fortes paralelos com o cinema marginal brasileiro, algo que também fica patente na histeria que acompanha os movimentos corporais e no consciente trabalho de encenação. Seus tableaux vivants demonstram uma relação com as artes plásticas, sem cair nos maneirismos visuais que tais associações tiveram em obras de realizadores de um cinema autoral profissional (Pasolini, Jarman, etc.). Ainda que Smith possa ser considerado um realizador seminal de uma estética queer, a forma como a sexualidade e o corpo humano são apresentados se aproximam mais de uma estética do grotesco do que de erotismo como o presente no cinema de Jarman.  Smith rompe por completo com qualquer tentativa de uma orientação espacial proporcionada pela montagem. Sua montagem é francamente desconexa e não permite, ao menos numa primeira visada, uma compreensão concatenada de eventos. Esses são dispostos em blocos mais ou menos independentes e, mesmo dentro desses, tampouco existe uma clareza sobre o que é apresentado. 42 minutos.


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