Filme do Dia: No Distance Left to Run (2010), Will Lovelace & Dylan Southern
No Distance Left to Run (Reino
Unido, 2010). Direção: Will Lovelace & Dylan Southern. Fotografia: Ross McLennan & Dylan Southern. Montagem:
Dylan Southern.
Documentário
que acompanha uma turnê que reúne novamente os quatro integrantes originais da
banda pop britânica Blur. Seu tom cool,
prenunciado nos créditos iniciais, soa tão fake,
ao final de contas, quanto as intermináveis entrevistas em que membros da
banda, individualmente, fazem suas anamneses pessoais sobre os motivos que
levaram o distanciamento dos integrantes, o uso de drogas, a concorrência com o
Oasis, polarizada ao máximo pela imprensa na contraposição entre os garotos da
classe operária de Manchester do Oasis, contra os “riquinhos” de Londres. Mas,
e sobretudo, pelos sentimentos internos de uns para com os outros, numa
cansativa e inevitavelmente narcísica jornada. Não que se possa pôr em
suspeição a “honestidade” dos depoimentos, mas por se apresentarem sob uma
estrutura já tão desgastada que o efeito não poderia ser mais diverso da
intenção inicial. De música mesmo, muito pouco é ouvido, e sempre somente trechos
de gravações ou apresentações, o que não é exatamente uma surpresa quando se
sabe que esse documentário é acompanhado do show no Hyde Park que compõe uma
das primeiras e mais aclamadas apresentações da turnê de retorno ou despedida
da banda. O documentário faz um razoável uso de imagens de arquivo, sejam de
registros amadores ou mesmo familiares do grupo, assim como de programas de
televisão, procurando compor uma teia que leva ao clímax final, em que um final
feliz aponta para uma reunião do grupo, tendo todos vencidos as mágoas e
ressentimentos pessoais, como se seu retorno se desse pelo desejo íntimo de
seus integrantes, mais do que qualquer motivação comercial, ao contrário da
maior parte dos grupos pop que acabam se reunindo novamente. É justamente esta
ênfase demasiado centrada nos sentimentos internos dos participantes do grupo,
em praticamente completo alheamento de toda a estrutura empresarial que os
rodeia, citada apenas como fonte do desejo de um de seus participantes, de
abandonar tudo por um tempo, assim como da cena musical que o engloba, que o
torna demasiado auto-centrado para se tornar instigante. Talvez se tivesse
conseguido manter um saudável distanciamento de registro de bastidores, a
exemplo de Let it Be (1970), de
Michael Lindsay-Hogg, o filme tivesse se mantido menos próximo de seu evidente
viés auto-promocional. Porém, o filme se sustentaria diante de personalidades
longe de tão interessantes ou intensas quanto os Beatles? Provavelmente não, e
o apelo acaba sendo esse que satura os programas de pseudo-intimidade
confessionais, com comentários diretamente para a câmera, num fastidioso
“pensar sobre a relação”. Talvez não pudesse ser efetivamente diferente, pois
outra opção possível, a do registro in loco de novas composições tampouco parece ser a tônica da nova reunião do grupo que, a
exemplo de todas as outras bandas que voltam a se unir, centra fogo no
repertório de seus anos de apogeu. O zênite do reencontro entra em contradição
com o pessimismo antecipado por seu próprio título, mas fica difícil de
acreditar que se trata efetivamente da despedida da banda, quando se observa a
quantidade impressionante de público que lota Glastonbury para asssisti-los. Trechos de boa
parte dos hits do grupo como Park Life,
Song 2, She’s so High, Boys and Girls, Country House, End of a
Century e Tender. Pulse
Films para Arte Alliance Media. 104 minutos.
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