Filme do Dia: Fausto (2011), Aleksandr Sokurov
Fausto (Faust, Rússia, 2011). Direção: Aleksandr
Sokurov. Rot. Adaptado: Aleksandr Sokurov & Marina Koreneva, a partir da
obra de Goethe e do livro de Yuri Arabov. Fotografia: Bruno Delbonnel. Música:
Andrey Sigle. Montagem: Jörg Hauschild. Dir. de arte: Yelena Zhukova.
Figurinos: Lidiya Kryukova. Com: Johannes Zeiler, Anton Adasinsky, Isolda
Dychauk, Georg Friedrich, Hanna Schygulla, Antje Lewald, Florian Brückner,
Sigurour Skúlason.
Heinrich Faust
(Zeiler) aceita a corrupção do proprietário de terras (Adasinsky) que o leva
para uma jornada pela própria vila e seus moradores, tentando fazer com que
Heinrich os observe com outros olhos. Em meio a essa jornada, Heinrich se
interessa fortemente por Margarete (Dychauk). É a partir dessa sua fraqueza
pela garota que o proprietário irá aos poucos se apoderar da alma de Faust, ao
mesmo tempo sendo o canal para a expressão de seus desejos, o que resultará em tragédias como a morte do
irmão de Margarete e de sua mãe.
Sokurov, como era
de se esperar, apresenta uma adaptação que é tudo menos óbvia. O périplo que
Mefistófeles leva Fausto a rever as pessoas da cidade sob uma nova perspectiva,
inusitada e pouco condescendente ganha uma parcela de sua generosa metragem que
somente se centra na história de amor bastante tempo após, praticamente de onde
se inicia a até hoje mais célebre adaptação para o cinema, empreendida por
Murnau em 1926 – e brevemente referida aqui em seus planos iniciais. À bravura
visual do filme, o que inclui seus impecáveis figurinos, fotografia e direção
de arte, algo compartilhado com a filmografia do cineasta se acrescenta, com
grande auxílio dos mesmos, a tampouco incomum
atmosfera semi-onírica, em que absurdo e fantasia andam de braços dados, como é
o caso, dentre outros momentos, do que Mefistófeles se revela desnudo enquanto
ser inumano. Como em outras produções do cineasta o momento de encantamento
amoroso merece um destaque visual. Se em Pai
e Filho ele se dá a partir do uso original de um recurso tão trivial como o
plano/contraplano, aqui deriva da utilização de filtros, iluminação e efeitos
digitais que transformam radicalmente os rostos do casal. Do mesmo modo, a
contraposição entre momentos de uma relativa compreensão dos eventos descritos
com outros nos quais predomina o aberto e incerto tateio, auxiliado por sua
composição visual e por diálogos que menos pretendem esclarecer que o oposto.
Faz não apenas parte do jogo de criação
atmosférico do realizador, como é mesmo seu coração, sua marca autoral e
certamente irá provocar impaciência no espectador menos prevenido. Último filme
da tetralogia do realizador sobre o poder enquanto fonte corruptora que compreende
Moloch, Taurus e O Sol. Uma
possível evocação bíblica ao Tarkovski de O
Sacríficio (1985), surge no momento em que o protagonista exclama: “No
ínicio era o verbo”. Uma das fontes de adaptação para o filme foi o livro do
habitual colaborador de Sokurov, como roteirista, Arabov. Leão de Ouro no
Festival de Veneza. Proline Film. 140 minutos.
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