Filme do Dia: Jardim (2003), Adi Barash & Ruthie Shatz
Jardim (The Garden, Israel/EUA, 2003). Direção:
Adi Barash & Ruthie Shatz. Fotografia: Adi Barash. Música: Uri Frost. Montagem:
Janus Billeskov Jansen.
Esse documentário acompanha o cotidiano
de dois jovens que vivem no mundo da prostituição e das drogas que circunda um
local conhecido como Garden, em Tel-Aviv. Dodo, é um árabe-israelense que
procura se afastar da heroína enquanto se prostitui e se preocupa com o amigo
Nino, palestino que vive ilegalmente em Israel, que passa a morar no
apartamento que um israelense maduro arranjou para ele. Sua estadia é
passageira, já que Nino se encontra na mira da polícia e resolve ir para o
reformatório, de onde acaba fugindo. Sua fuga faz com que Dodo fique muito
preocupado e o aconselha a voltar a se entregar, enquanto Nino pressiona Dodo a
abandonar o uso da heroína de uma vez por todas. Nino se entrega, recebendo a
pena de cumprir um período no reformatório, recebendo alguns dias de permissão
e voltando a ficar ao lado de Dodo nas ruas, onde refletem sobre qual será o
futuro deles.
Talvez a força do filme paradoxalmente
seja a sua maior fraqueza, no sentido de que a proximidade que consegue dos
rapazes e sua estrutura, bem próxima da ficção
transforma-os verdadeiramente em “personagens”, de certa forma
neutralizando qualquer impacto maior das situações que apresenta. Tem-se a
impressão, por vezes, de se assistir um drama de Matthieu Kassovitz ou Gaspar
Noé. Em certo momento, após uma discussão em que Dodo tenta convencer Nino a se
entregar e ele reluta, os comentários de Nino diretamente para a câmera findam
por soar tão fakes quanto estratégias
semelhantes utilizadas pela dramaturgia dos programas que se detém no cotidiano
de jovens da MTV. Poder-se-ia falar de uma má interpretação? A pergunta que
fica é até que ponto as emoções apresentadas são dos indivíduos ou dos
personagens que dramatizam para a câmera. Em nenhum momento a câmera chega a
ser hostilizada, apesar de muitas vezes ser bastante invasiva. Nesse sentido
sua vampirização de um cotidiano degradado dos jovens soa mais como um apelo
voyeurista para explorar uma faceta de Israel pouco presente no mercado das
imagens (que funciona, obviamente, como uma estratégia de marketing, afinal em que tal universo se diferencia do de qualquer
outra capital do mundo?) do que uma explicitação da construção auto-reflexiva
entre vida pessoal e ficção, tal como se encontra presente no documentário
brasileiro 33. Aqui, pelo contrário,
a câmera quase sempre procura ser a mais invisível possível, somente sendo
abertamente confrontada quando uma travesti amiga de Dodo fala com o
cinegrafista. Seu teor invasivo igualmente se manifesta no momento em que Dodo
faz revelações intimistas sobre seu turbulento passado e a câmera não se escusa
em se deter sobre seu braço repleto de picadas de heroína. Alter Cine/Fig
Films/Noga Communications. 90 minutos.
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