Filme do Dia: Vida de Casado (1951), Mikio Naruse
Vida
de Casado (Meshi, Japão, 1951).
Direção: Mikio Naruse. Rot. Adaptado: Yasunari Kawabata, Toshirô Ide &
Sumie Tanaka, baseado no romance de Fumiko Hayashi. Fotografia: Masao Tamai.
Dir. de arte: Satochi Chuko. Com: Setsuko Hara, Ken Uehara, Yukiko Shimazaki,
Yôko Sugi, Akiko Kazami, Haruko Sugimura, Ranko Hanai, Kan Nihoyanagi.
Nos subúrbios de Osaka, Michiyo (Hara) é uma dona de casa
insatisfeita com a rotina de trabalhos exaustivos e tédio que envolve seu
casamento com Hatsonusuke (Uehara). A situação se agrava quando uma sobrinha do
marido, Satoko (Shimazaki), decide ir morar com eles. Michiyo acredita que
ambos mantém uma relação amorosa, o que não se encontra longe da verdade. Ao
menos por parte da irrequieta Satoko. Michyo decide partir para Tóquio, de quem
sentia saudades, voltando à casa da famíila. Satoko vai com ela. Após algumas
semanas, Michiyo decide escrever ao marido, mas não tem coragem de postar sua
carta. O fato de Satoko se encontrar decidida a casar também desanuvia algumas
de suas suspeitas. O marido aparece certo dia em busca dela. Afirma que
pretende entrar em um novo emprego, mas gostaria de escutá-la. Ela parte de
volta para Osaka com ele no dia seguinte.
A presença de Setsuko Hara bem pode sugerir uma proximidade
com a obra de Ozu, tal como em seu O Som da Montanha (1954). Nada mais enganoso, no entanto. Aqui, tudo finda por
soar decepcionantemente convencional em termos da filmografia posterior de
Naruse. O filme talvez peque, sobretudo, por tornar tudo por demais evidente,
faltando um pouco da opacidade e sutileza características do realizador. Ou
ainda do lirismo e vivacidade que acompanham sua obra mais próxima de Ozu.
Ainda que algumas das estratégias, por mais usadas que sejam não deixam de ter
seu encanto, como a reserva de afetiviadade que Michiyo dispensa ao gato, um
dos poucos antídotos contra sua vida desprazerosa, outras soam excessivas ou
mesmo clichês, como a adolescente vivida por Shimazaki tentando fumar ou
bocejando quando leva uma lição de moral do pai. Nesse sentido, apresentam uma
redundância que é um dos pontos fracos do filme, somada a uma certa imaturidade
em termos de construção narrativa, como a seqüência repetida praticamente igual
(ou se trataria da mesma tomada, o que já acrescentaria um dado interessante?)
entre os vizinhos do casal, a criança que tropeça quando vai para a escola, o
marido que vai saindo e a mulher lhe traz a merenda com o intuito de reforçar o
aborrecido cotidiano sempre igual. Ou a ainda bem pior contraposição entre o
momento de diversão que o marido está vivenciando em seu passeio com a sobrinha
e o duro trabalho doméstico efetuado pela esposa. Aliás, aqui se faz presente um recurso pouco comum
nos filmes do cineasta, uma narração da própria protagonista. Nada mais
distante e convencional que o seu final. Os finais dos filmes do realizador
geralmente são motivados por uma sugestão do rumo que as coisas tomarão. Aqui,
além de não apenas enfatizar o retorno da esposa para seu marido, sua solução
(dada à pressão do estúdio? tratar-se de uma adaptação?) soa tão inverossímil
quanto nos melodramas americanos da mesma década. Como ficar convencido de que
a mesma postura do marido, acenando para o mesmo cansaço da rotina que fizera a
protagonista se afastar dele será saudado com tanto entusiasmo na cena final,
quando após ela lhe relatar que havia acabado de rasgar a carta que lhe
endereçara ele apenas se vira e dorme? Destaque para a interpretação habitualmente
inspirada de Hara e para motivos que seriam retrabalhados posteriormente pelo
realizador, como o do passeio guiado de ônibus pela cidade. Toho. 97 minutos.
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