Filme do Dia: O Som da Montanha (1954), Mikio Naruse


O Som da Montanha (Yama no Oto, Japão, 1954). Direção: Mikio Naruse. Yôko Mizuki, baseado no romance de Yasunari Kawabata. Fotografia:  Masao Tamai. Música: Ichirô Satô. Dir. de arte: Satoshi Chuko. Com: Setsuko Hara, Sô Iamamura, Ken Uehara, Yôko Sugi, Teruko Nagaoka, Yatsuko Tanami, Chieko Nakakita, Rieko Sumi.
Em Tóquio, o patriarca da família Ogata, Shingo (Iamamura), defronta-se com uma crise no casamento de seu filho, Shuichi (Uehara) e sua esposa, Kikuko (Hara), agravada após essa cometer um aborto por estar esperando uma menina e não um filho como Shuichi queria. A amante de Shuishi também se encontra grávida, mas decidiu ter a criança sozinha. O retorno da filha dos Ogata, Fusako (Nakakita), a residência dos pais, é acompanhada também por seu sentimento de inveja pela devoção que Shingo sente pela nora e pela indiferença que acredita ele possuir em relação a ela própria. Mãe de duas crianças, Fusako já avisou que não retornará ao marido, envolvido em negócios escusos.
Esse filme de Naruse chama a atenção desde o início por ser bastante distinto de sua filmografia habitual. Antes de tudo, tanto a abordagem do tema familiar, mas do que mães  solteiras ou gueixas habituais, ausente na maior parte de sua filmografia, como o estilo do filme, sobretudo em seu início, assim como a própria utilização dos temas musicais, muito mais próximos  de Ozu do que do próprio Naruse. É igualmente evocativa de Ozu a relação entre pais e filhos, assim como a própria presença de Setsuko Hara, atriz completamente identificada com seus dramas familiares. A figura de Shingo também é estranha ao universo de personagens masculinos do realizador, talvez servindo quase como um alter-ego involuntário do realizador, na sua sensível abordagem dos dramas dos filhos, sobretudo em sua preocupação com a nora. A opressão feminina aqui é menos enfatizada a partir de sua própria perspectiva que dos olhos desse homem que consegue demonstrar um interesse, mesmo que tardio, por seus próprios filhos, algo que parece escapar de sua esposa. Mesmo a proximidade com Ozu  não deixa de destacar temas mais ousados dos que habitualmente retratados por aquele, como é o caso do aborto e da gravidez da esposa e amante de Shuishi respectivamente. Em seu final, mesmo que bem evocativo de Ozu, no qual Shingo e Kikuko efetuam uma comovida despedida em um parque de Tóquio, dada uma certa dimensão contemplativa, tampouco deixa de acrescentar algo pouco imaginável não apenas em Ozu como no próprio Naruse, um comentário de Kikuko sobre a perspectiva do parque redimensionar o espaço para algo aparentemente maior do que efetivamente é, sendo seu comentário um próprio dublê das belas imagens em perspectiva que o filme apresenta.  Toho Co. 96 minutos.


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