Filme do Dia: Violência Gratuita (1997), Michael Haneke
Violência Gratuita (Funny Games,
Áustria, 1997). Direção e Rot. Original: Michael Haneke. Fotografia: Jürgen
Jürges. Montagem: Andreas Prochaska. Dir. de arte: Christoph Kanter. Figurinos: Lisy Christl. Com:
Susanne Lothar, Ulrich Mühe, Arno Frisch,
Frank Giering, Stefan Clapczynski, Doris Kunstmann.
O casal burgues Anna (Lothar) e Georg (Mühe)
chegam em sua casa de campo, acompanhados pelo filho pequeno. Enquanto Georg
veleja com o filho, Anna recebe a visita de dois jovens, Paul (Frisch) e Peter
(Giering), supostos vizinhos que lhe pedem ovos. Indignada com a situação que
começa a ficar sem controle, Anna pede que o marido, recém-chegado, os expulse.
Quando esse pretende tomar a decisão é vítima da primeira de uma série de
violências que a família se tornará refém. Com o celular danificado e sem ter
como se comunicar com o mundo exterior, o casal passa a ser vítima de torturas
tanto físicas quanto psicológicas, como quando forçam que o marido peça à
esposa para que tire a roupa na frente de todos. Ainda chegam a receber a visita
de vizinhos logo no início mas Anna não os convida para permanecer na casa. Em
dado momento a criança consegue fugir e se dirigir a um vizinho, mas descobre
que ela também foi vítima da dupla e sendo recapturado e posteriormente
assassinado na frente dos pais. No limite da sanidade mental, o casal procura
imaginar táticas de fuga, já que Georg se encontra impossibilitado de caminhar
e Anna não consegue entrar em contato com ninguém. Ela é igualmente recapturada
e presencia a morte do marido. A dupla, então, amordaça Anna e a leva no barco,
jogando-a na água, e se aproximando da vizinha que visitara o casal.
Essa pretensiosa produção pretende ser uma forma irônica
de se aproximar dos clichês dos filmes do gênero, mas quando os satiriza acaba
apenas ressaltando a força dos mesmos, como a gratuidade da violência exposta e
a fragilidade do próprio filme. Sem muita sofisticação o filme apela tanto em
conteúdo como na forma em ir contra os anseios do espectador. Assim, ao
contrário da maioria dos filmes do gênero, todas as oportunidades que se
apresentam são desperdiçadas como a chegada da família, a fuga da criança, etc.
Da mesma forma a morte de todos, começando pela da criança também procura ser
uma inversão do esperado e quando a heroína finalmente consegue o domínio de
uma arma e atirar contra um dos rapazes, o outro retorna a ação através do
controle do vídeo e retomando o domínio sobre o casal. Porém essa constante
negação da catarse do espectador, após uma tensão constante e a irritação de
ver os criminosos, presunçosos psicopatas, sempre vitoriosos, torna-se tediosa e
cheia de ingênuos comentários “metanarrativos”, como um dos rapazes que vez por
outra se volta para a câmera e comenta sobre o “timing” do filme ou coisa que o
valha. As interpretações e o próprio ritmo do filme poderiam também ser motivo
de auto-ironia, afinal sequências como a do casal sozinho após a saída da
dupla, construídas para reforçar a atmosfera de uma possível solução para a
situação que seria negada posteriormente, são absurdamente tediosas. Essa
fórmula já foi explorada muitas vezes e de melhor forma em outros filmes, seja
no modelo do cinema americano clássico, com direito a compensação final, em Horas de Desespero (1955) de
Wyler, seja de forma mais original e debochada em Armadilha do Destino (1966), de Polanski. Wega Film. 103 minutos.
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