Filme do Dia: L'Acadie, L'Acadie (1971), Pierre Perrault & Michel Brault
L’Acadie, L’Acadie
(Canadá, 1971). Direção: Pierre Perrault & Michel Brault. Fotografia: Michel
Brault. Música: Valérie Blas & Majorique Duguay. Montagem: Monique Fortier.
No final dos anos
60, um grupo de estudantes francófilos decide não se resignar pelo que
acreditam ser o imperialismo da cultura anglófila, assim como seus consequentes
benefícios e discriminações na província de New Brunswick. O documentário
observa a partir desse contexto um grupo de estudantes da Universidade de
Moncton, muitos deles identificados com a cultura acadiana, associada a
preservação dos valores francófilos e de dimensão abstrata-utópica, em grande
medida. Dentre as cenas mais tensas registradas no documentário se encontram as
imagens (compiladas de um canal de TV) de um processo no qual os estudantes são
intimados na prefeitura e não podem se manifestar em francês, porque os juízes
da corte não compreendem o francês. Os estudantes, a partir da própria
realidade opressora na qual vivem – mesmo a população de origem francesa
correspondendo então a 40% do conjunto da população de New Brunswick, item,
inclusive, negado por um dos juízes – não levam a sério a propaganda de se
tratar de um país de cultura bilíngue, assim como a referência a província como
um exemplo de coexistência pacífica entre francófilos e anglófilos declarada
pelo então líder Pierre Trudeau. Outro grande momento de tensão é quando numa
uma conferência com a presença dos dois grupos, um grupo mais idoso se levanta
e começa a cantar o hino britânico, sendo seguido algum tempo depois por Auld Lang Seine pelos estudantes
francófilos. Uma das alegações dos estudantes é da parca quantidade de verbas
para a sua universidade, enquanto na Universidade de New Brunswick, inglesa, a
realidade é outra. Por fim, um momento final de tensão se dá quando os
estudantes decidem invadir um setor do campus da universidade de Moncton. E
frente a provável retirada à força pelos policiais, decidem sair pacificamente.
Esse momento, confrontado com as imagens bem mais violentas dos protestos
estudantis norte-americanos da época, serve igualmente como um marco na
desmobilização do movimento, com a dispersão do grupo de amigos mais atuantes e
líderes das manifestações e o fim do sonho, registrado sobretudo a partir da
perspectiva de uma garota, cuja visão amargurada, com a partida dos amigos para
destinos diferentes, um dos quais se considerando praticamente expulso da
universidade, serve como um contraponto para os vários momentos de vibrante
energia e comunhão observados ao longo do documentário. Nesse momento de reflexão final, a garota
chega a exclamar que a Acádia talvez não seja nada mais que “um mero detalhe”,
sendo que ouvimos logo após uma das poucas manifestações de Perrault
preservadas na banda sonora, afirmando ironicamente, “então realizamos um filme
sobre um detalhe?” Como nos filmes de ficção, para que o contraponto as lutas e
bravatas estudantis seja mais agudizado ao final, insere-se alguns momentos nos
quais os próprios surgem em momentos de descontração falando sobre si, a pesada
herança religiosa recebida, a emancipação da mesma ou as perspectivas futuras.
Nunca anteriormente, provavelmente, o cinema de Perrault esteve tão próximo de
algumas marcas do cinema direto norte-americano, mesmo que muitas artíficios
estranhos a esse surjam. O filme é ritmado por seções que são divididas a
partir de singelos planos com papel recortado, contendo os nomes dos segmentos.
Office National du Film du Canada. 117 minutos.
Comentários
Postar um comentário