Filme do Dia: Os Cinco Últimos Dias (1982), Percy Adlon

Os Cinco Últimos Dias (Fünf Letzte Tage, Alemanha Ocidental, 1982). Direção: Percy Adlon. Dir. de arte: Heide Lüdi. Com: Irm Hermann, Lena Stolze, Joachin Bernhard, Ossi Eckmüller, Hans Stadlbauer, Gert Burkard, Michael Cornelius, Philip Arp, Hans Hirschmüller.
No centro prisional de Wittelbacherpalais, em Munique, em 1943, a chegada da jovem Sophie Scholl (Stolze), integrante de uma organização anti-nazista conhecida como Rosa Branca, provoca a admiração até de seus adversários, por sua integridade em relação a si própria e seus ideais. Else Gebel (Hermann), prisoneira de meia-idade, transforma-se em sua grande amiga e confidente. A admissão de sua culpa coincide com a de seu irmão Hans (Cornelius), ambos procurando inocentar um ao outro. Em não mais que cinco dias em que as tentativas do inquisidor nazista e do advogado para articular uma estratégia em sua defesa se demonstram inconciliáveis, Sophie vem a ser degolada juntamente com o irmão e outro membro da organização que fora o mentor intelectual dos panfletos que distribuíam na universidade.
Pontuado pela narração de maneira sucinta, burocrática e profundamente anti-sentimental da personagem de Else Gebel, o filme ganha uma dimensão que transcende de muito as representações banais e melodramáticas habitualmente vinculadas a episódios envolvendo o nazismo. Nesse sentido, tal articulação da narrativa reflete uma lógica fria e racional que movimentava a máquina nazista e não a ensandecida psicose explícita com que habitualmente foram retratados. E, ainda mais importante, transformando cada ato de solidariedade, compaixão e amizade vivenciados como a pequena encenação teatral improvisada dos carcereiros e a tímida despedida entre as duas mulheres em momentos de uma intensidade muito mais comovente que se tivesse aderido a uma representação de matizes melodramáticos. Auxilia na composição do ascetismo buscado pelo cineasta a montagem seca, a magnífica interpretação da dupla principal (Hermann, habitual membro da trupe de Fassbinder, em um de seus melhores papéis; Stolze, estreando no cinema com interpretação marcante, sendo que curiosamente voltaria a interpretar o mesmo personagem em outra produção do mesmo ano, dirigida por Michael Verhoven), a simplicidade dos cenários e a comedida utilização dos acordes de uma sonata de Schubert, a elipse do momento da execução, que seria climático para qualquer produção que buscasse uma manipulação fácil dos sentimentos. Tanto o estoicismo de sua protagonista – identificado com uma frase de Goethe, “manter-se, apesar de todas as violências”, de matiz profundamente cristão, sentimento também comungado pela figura de Else, havendo referência inclusive a Bernanos, quanto o referido ascetismo que procura traduzir tal dimensão ao nível narrativo sem dúvida são evocativos da obra de Bresson, sobretudo O Processo de Joana D´Arc. Curiosamente esse que provavelmente é o melhor filme de Adlon possui um estilo e um tema completamente diversos do que viria a ser seu maior sucesso comercial, Bagdad Café. 112 minutos.


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