Filme do Dia: A Casa Assassinada (1971), Paulo César Sarraceni
A Casa Assassinada (Brasil, 1971). Direção:
Paulo César Sarraceni. Rot. Adaptado: Paulo César Sarraceni, baseado em romance
de Lúcio Cardoso. Fotografia e Montagem: Mário Carneiro. Música: Antônio Carlos
Jobim. Dir. de arte e Figurinos: Fredy
Carneiro. Com: Rubens Araújo, Norma Bengell, Nélson Dantas, Joseph Guerreiro,
Leina Krespi, Carlos Kroeber, Tetê Medina, Nuno Veloso.
Após casar com
Valdo, Nina (Benguell), mulher atraente e de modos liberais, passa a morar na
provinciana mansão dos Menezes, no interior de Minas, decadente família que já
não possui sequer rendas para mantê-la. Enreda-se na complexa teia
familiar que envolve a hostilidade do irmão mais velho Demétrio (Dantas), sua
reprimida mulher Ana (Medina), o delírio do irmão rejeitado homossexual Timóteo
(Kroeber) e o desejo de Nina pelo jardineiro da casa (Veloso). Os boatos de seu
envolvimento com o jardineiro acabam provocando uma tentativa frustrada de
suicídio do marido. O jardineiro, no entanto, é quem se suicida. Nina parte para o Rio, retornando somente 17
anos após. Seu retorno provoca uma relação incestuosa com o próprio filho,
André (Veloso), que inicialmente não sabe que ela é sua mãe. Progressivamente
enferma, Nina sucumbe. Ana revela ao padre local que, no entanto, André era
fruto de sua relação extra-conjugal com o jardineiro.
Terceiro filme da
trilogia de adaptações que Sarraceni empreendeu a partir de obras de Lúcio
Cardoso iniciada com Porto das Caixas
(1962) e finalizada com O
Viajante (1999). Trata-se juntamente com
A Culpa (1972) de Domingos de
Oliveira e Toda Nudez Será Castigada
(1972), de Arnaldo Jabor, entre muitos outros, com temas como incesto,
paixões reprimidas e morbidez, de mais um retrato da decadência da família
patriarcal sem temer os excessos e no caso em questão, ainda que irregular,
bastante expressivo. Mesmo com momentos toscos e interpretações nem sempre
convincentes, destacam-se Norma Bengell, vivendo uma figura bastante semelhante
a Geni vivida por Darlene Glória no filme de Jabor, enquanto elemento pertubardor
da moral burguesa capenga e hipócrita com sua liberalidade que acaba sendo
destroçada pela mesma e Kroeber, como o travestido que cria seu próprio mundo
entre as quatro paredes do quarto (que também possui um paralelo com um
personagem não menos patético em O Casamento de Jabor), que ganharia os mais importantes prêmios nacionais do
ano. O filme, um dos que mais explicitamente retratam o incesto na história do
cinema, ainda que posteriormente tal efeito seja arrefecido com a confissão de
Ana, também explora a semelhança entre o jardineiro e Carlos, vividos pelo
mesmo ator, que também se torna evidente com a confissão final de Ana, ambiguidade que ainda é mais realçada por conta de uma montagem não linear que
inicia com os funerais de Nina. Planiscope Filmes. 103 minutos.
Legal - Filme pouco lembrado.
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