Filme do Dia: Valsa com Bashir (2008), Ari Folman

Valsa com Bashir (Valms im Bashir, Israel/França/Alemanha/EUA/Finlândia/Suiça/Bélgica/Austrália, 2008). Direção e Rot. Original: Ari Folman. Música: Max Richter. Montagem: Feller Nili. Dir. de arte:  David Polonsky.
Uma noite em um bar um amigo conta ao diretor Folman sobre o pesadelo recorrente no qual é perseguido por 26 cachorros. O episódio está vinculado a uma experiência sua na primeira guerra do Líbano, quando teve que assassinar a mesma quantidade de cachorros. Sua narrativa faz com que Folman se volte para os seus próprios fantasmas de guerra, assim como seus bloqueios e interdições, que aos poucos procura recuperar, tais como um episódio em uma praia e o massacre nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, em 1982.
Folman realizou uma corajosa animação em longa-metragem não apenas por conta de seu espinhoso tema, sobretudo no que diz respeito a episódios relativamente tabus na história política israelense recente, como por sua dimensão explicitamente autobiográfica, e por sua própria proposta estética, na qual o tema adulto não faz concessões igualmente em termos gráficos (quando comparado, por exemplo, a outra animação recente que lida com a história política de outro país do Oriente Médio, o Irã, que é Persepolis) e cujo extremo realismo  quase documental dos traços é pontualmente contrabalançado pelos delírios de seu dois personagens principais. Eventualmente interrompido por evocações líricas (ao som de Bach), sendo uma delas evocativa de um filme como Além da Linha Vermelha por sua dimensão quase mística, na qual as belezas naturais, ressaltadas por uma “luminosidade” no qual as fontes de luz solar surgem pelos galhos das árvores como halos  que iluminam o  cenário para o massacre de uma criança que brincava próxima. Outros momentos visualmente inspirados são a corrida da matilha de cães que surge na seqüência inicial dos créditos, a recorrente cena na qual soldados desnudos saem do mar e observam sinalizadores caindo próximo de onde se encontram e a seqüência na qual o protagonista se depara com uma cidade libanesa aparentemente intacta quando chega no aeroporto, apenas para perceber que são apenas destroços de uma cidade sitiada e quase fantasma, na qual lojas de conveniência se encontram desertas e os aviões de companhias internacionais não passam de carcaças pairando sobre a pista do mesmo.  Encerra com imagens reais do massacre de Sabra e Shatila. A dupla ousadia de mesclar história política polêmica através do recorte da memória individual, evidente metáfora para o próprio recalque da memória coletiva de uma nação com um veículo aparentemente tão pouco propício para tanto como a animação, não se escusando em apresentar seqüências de morte e sexo explícito, assim como um ritmo bastante próprio, tem o ônus de limitar esse filme a platéias bastante restritas. A mistura original e pouco explorada entre gêneros aparentemente contrapostos como animação e documentário – sendo o cineasta um documentarista com trabalhos para a televisão – se faz presente na base que dá corpo ao filme, a da entrevistas com pessoais reais, que tem seus créditos apresentados tal e qual em um documentário de ação ao vivo. 90 minutos.


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