Filme do Dia: O Médico e o Monstro (1931), Rouben Mamoulian
O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll
and Mr.Hyde, EUA, 1931). Direção: Rouben Mamoulian. Rot. Adaptado: Samuel
Hoffenstein & Percy Heath, baseado no romance The Strange Case of Dr.Jekyll and Mr. Hyde, de Robert Louis
Stevenson. Fotografia:
Karl Strauss. Montagem: William Shea. Dir. de arte: Hans Dreier.
Figurinos:Travis Banton. Com: Fredric March,
Mirian Hopkins, Rose Hobart, Holmes Herbert, Halliwell Hobbes, Edgar Norton,
Tempe Pigott.
Dr. Henry Jekyll
(March) é um médico cuja celebridade se deu por sua pouco ortodoxa tese a
respeito da possibilidade de conseguir o retorno de características primitivas
em seres humanos contemporâneos. Noivo de Muriel Carew (Hobart), para desgosto
de seu pai, Danvers (Hobbes), que a manda para Paris, Jekyll se sente profundamente
atraído pela prostituta Ivy Pearson (Hopkins), que auxiliou em uma situação de
briga com um de seus clientes. O Dr. Lanyon (Herbert), que não compartilha das
idéias de Jekyll, que considera extravagantes, fica chocado ao entrar no quarto
e flagrar Jekyll nos braços da prostituta. Após conseguir levar adiante sua
experiência consigo próprio, Jekyll se transforma em um ser grotesco e
truculento que vai ao bar onde se encontra Ivy Pearson e passa a domina-la de
modo tirânico, que ele próprio chama de Sr. Hyde. Quando Muriel retorna de
Paris, é marcado o casamento de Jekyll com Muriel. Porém ele não vai ao
evento.Transformado pelos efeitos constantes da medicação, já não possui
controle sobre suas próprias mutações. Após enviar dinheiro para Pearson enquanto
Jekyll, assassina-a enquanto Hyde. O Dr. Lanyon se torna conhecedor do evento
inexplicável. Após romper definiitavmente com Muriel, Jekyll novamente se transforma
em Hyde e agride Muriel e seus familiares. Fugindo para a casa de Jekyll com a
polícia em seu encalço, tenta enganar a polícia mas é desmascarado por Lanyon.
Após uma última metamorfose, é morto por um tiro.
Essa, que sem
dúvida é justamente a mais célebre adaptação cinematográfica do clássico
romance de Stevenson, recorrentemente adaptado tanto antes quanto depois, marca
sua diferença com a segunda adaptação mais célebre, realizada por Curtiz dez
anos após, por uma maior ousadia formal e por um erotismo impensável de ser
suscitado após o Código Hays, de dois anos após. Quanto ao último, é marcante
tanto na abordagem inicial da prostituta diante de Jekyll quanto – e
principalmente – na transformação que leva um reprimido aristocrata a liberar
todos os seus impulsos mais primários, motivado em grande parte pelo desejo da
prostituta. A mutação por si só, ao menos a primeira vez em que é representada,
é um primor de artifício técnico, já que aparentemente efetivada apenas a
partir de um jogo de luzes e sem nenhum corte. Ainda que o resultado final
produza uma criatura por demais caricata Mamoulian soube não só acentuar o tom
iconoclasta de seu “rebelde” dianto do
açucarado e pouco entusiasmante romantismo do par Jekyll-Muriel quanto muitos
dos ecos das vanguardas européias da década anterior (efeitos ópticos, tela
dividida com ações simultâneas, distorções de foco, prólogo com o protagonista representado pela própria
câmera) e uma trilha musical com pérolas de Bach no sinistro órgão que
antecipam O Gato Preto, para não
falar de toda uma extensa produção posterior menos inspirada. O caráter
explicitamente esquizóide do protagonista acentuará os traços da repressão
sexual de uma Inglaterra vitoriana, códigos de pouca valia para uma plebe
extremamente sexualizada. Paramount Pictures. 98 minutos.
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