Filme do Dia: O Abismo Prateado (2011), Karim Ainouz

O Abismo Prateado (Brasil, 2011). Direção: Karim Ainouz. Rot. Original: Beatriz Bracher. Fotografia: Mauro Pinheiro Jr. Música: Rica Amabis. Montagem: Isabela Monteiro de Castro. Dir. de arte: Marcos Pedroso. Com: Alessandra Negrini, Otto Jr., Thiago Martins, Gabi Pereira, Camila Amado, Milton Gonçalves, Sérgio Guizé, Carla Ribas.
Abandonada pelo marido, Djalma (Otto Jr.), Violeta (Negrini) fica emocionalmente desequilibrada, é atropelada quando anda de bicicleta e, ainda assim, decide abandonar o filho com uma irmã e parte para o aeroporto, mas não consegue mais vôos para Porto Alegre. Desorientada, Violeta vai para um motel e lá escuta uma mensagem do marido, que pensa em fazer uma viagem para a Patagônia, que se sentia sufocado na relação e que ela não o procure. Violeta vai para uma boate e vaga a esmo pela noite encontrando uma menina (Pereira) e, a partir dela, aproximando-se também de seu pai, Nassir (Martins), pintor de paredes que, desfeito a suspeita em relação as intenções dela, a leva para o aeroporto, antes de partir de volta ao Nordeste, para reencontrar a família.
Nesse experimento mal sucedido, mais próximo do folhetinesco do que propriamente da canção Olhos nos Olhos, de Chico Buarque, Ainouz volta a direcionar suas lentes para personagens femininas e sua vida afetiva, algo presente não apenas em sua filmografia (O Céu de Suely) como na de realizadores próximos (Era Uma Vez, Eu, Verônica). Tal como a versão da canção de Chico, numa aproximação algo oblíqua da original, já que incapaz de reproduzir o pathos da mesma, sem tampouco ser uma paródia, o filme parece patinar numa inconsistência que, apesar da entrega de Negrini, acaba incapaz de comover com o drama de seu personagem. Criados com a intenção de serem sensíveis retratos femininos, o que tal proposta tem demonstrado cada vez mais é o seu esgotamento diante de tanta trivialidade sob o álibi de um sensibilismo oco e cujas “soluções”, inclusive, apontam para flertes de muito já defenestrados, ainda que sob um viés bastante distinto, pelos realizadores do Cinema Novo: uma tentativa de, sob o absoluto desespero, tentar estabelecer uma comunicação com um outro de classe, ele próprio também dono de uma sensibilidade, que cantarola a canção de Chico e que vai para esse Nordeste onde ainda se torna possível se pensar em laços familiares e sólidos.  Para que o choque entre o mundo exterior, a seguir seus passos incólume e indiferente, e uma interioridade devastada, fosse efetivo, algo mais do que uma tórrida cena de sexo deveria ter sido testemunhada pelo espectador. Essa ausência da construção dessa afetividade corroída, torna seu fim algo tão impalpável de ser percebido como relevante quanto tudo o mais que é apresentado. RT Features. 83 minutos.


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