Filme do Dia: Romance (1988), Sérgio Bianchi
Romance (Brasil, 1988). Direção: Sérgio
Bianchi. Rot. Original: Caio Fernando Abreu, Fernando Coni Campos, Mário
Carneiro, Cláudia Maradel, Cristina Santeiro & Suzana Semedo, sob o
argumento de Sérgio Bianchi & Eduardo Albuquerque. Fotografia: Marcelo
Coutinho, Adrian Cooper, Aloysio Raulino e Paulo Mendes da Rocha. Montagem:
Marília Alvim. Dir. de arte: Ruth Alvin & Bronie Lozneaunu. Figurinos: Ruth
Levy. Com: Imara Reis, Hugo Della Santa,
Cristina Mutarelli, Isa Kopelman, Rodrigo Santiago, Beatriz Segall, Emílio Di
Biasi, Elke Maravilha.
Regina (Reis) se
torna uma obsessiva pesquisadora da obra do recentemente falecido intelectual
Antônio César (Santiago), morto misteriorsamente. A pesquisa a leva a Curitiba,
onde César morava quando morreu e as pressões de um corrupto político
(Mamberti), que provoca um pequeno atentado contra Regina. Enquanto isso,
amigos próximos de César vivenciam seu drama de forma desesperada.
Fernanda (Kopelman), ex-amante e o
homessexual com quem vivia, André (Santa). Fernanda acaba optando pelo suicídio
e André, portador do vírus HIV, procura
sem sucesso restringir sua sexualidade à masturbação. Ao contrário da opção
trágica da amiga, Regina prefere aceitar a cooptação do político e se transformar
na principal responsável por um espaço cultural destinado à obra de César.
Segundo longa de
Bianchi, que não consegue a dinâmica e o impacto de seu média metragem
documental anterior, Mato Eles? nem
resolver de melhor maneira muito do que tematiza aqui e em seu posterior longa Cronicamente Inviável (2000). Nesse
sentido, o olhar pretensamente ácido do cineasta com relação à sociedade
brasileira é prejudicado por fatores vários, que vão desde a risivelmente
caricata caracterização do intelectual de esquerda (que, utilizando-se do
batido mote de Cidadão Kane, irá
tentar ser revivido pela pesquisadora) até a precária direção de atores e uma
busca de um certo apuro visual extremamente kitsch,
bastante comum na produção paulistana da década. Tampouco a visão política do
filme, um tanto quanto ingênua e esquemática (voltará a ser retrabalhada de
modo mais sofisticado em Cronicamente Inviável) demonstra ser interessante. Existe uma certa dispersão narrativa,
com a presença de personagens certamente dispensáveis, como a companheira de
apartamento de Regina. A pletora de
cacoetes de um certo cinema modernista, que inclui uma cena em que o próprio
Bianchi desanca com a atriz que desanca na diegese com um garçom, apenas
demonstra algo de interessante quando incorpora em meio à narrativa um pequeno
documentário que segue em tom implicitamente irônico (uma voz grave, estilo dos
documentários realizados à época do auge do regime militar) sobre uma experiência
de auto-gestão de uma fazenda por agricultores pobres, evocando de maneira mais
sutil o que Jorge Furtado, igualmente utilizando humor e problemática social,
faria em seu curta Ilha das Flores
(1989). Embrafilme. 103 minutos, embora exista uma versão de 90.
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