Filme do Dia: Amarga Esperança (1948), Nicholas Ray
Amarga Esperança (They Live by
Night, EUA, 1948). Direção: Nicholas Ray. Rot. Adaptado: Charles Schnee
& Nicholas Ray, baseado no romance Thieves
Like Us, de Edward Anderson. Fotografia: George E. Diskant. Música:
Leigh Harline. Montagem: Sherman Todd. Dir. de arte: Albert S.D’Agostino &
Alfred Herman. Cenografia: Darell Silvera
& Maurice Yates. Com: Cathy
O`Donnel, Farley Granger, Howard Da Silva, Jay C. Flippen, Helen Craigh, Will
Wright, William Phipps.
Três prisioneiros
foragidos buscam apoio junto ao velho Mobley (Wright). Eles roubam um banco,
conseguindo uma quantia razoável de dinheiro. Com esse dinheiro, o mais jovem
deles, Bowie (Granger), enamorado da filha de Mobley, Keechie (O’Donnel), foge
com ela. Eles se casam e quando ainda se encontram em lua-de-mel são procurados
por Chickamaw, que quer que Bowie participe de outra ação com ele. Este recusa,
porém quando volta ao motel onde se estabelece provisoriamente, é reconhecido e
parte com Keechie. Complicações na gravidez de Keechie fazem com Bowie busque apoio de Mattie (Craig), também
envolvida com o assalto ao banco, que o delata à polícia. A polícia vai ao
motel de Mattie e o assassina.
Mesmo que sua trama
não seja exatamente original, antes pelo contrário, Ray, em seu filme de
estréia, acrescenta ao menos dois diferenciais importantes. No plano visual, a
diferença já se faz sentir nos créditos iniciais, quando a ação propriamente
dita é antecedida pelo que mais parece ser um trailer em miniatura e nas imagens que o seguem, filmadas a partir
de um ponto de vista de um helicóptero, emprestando um visual moderno ao filme (dizem ter sido o
primeiro plano filmado pelo realizador) e inaugurando uma estratégia visual
para cenas de ação – as filmagens aéreas até então se restrigiam ao caráter
descritivo dos ambientes; mais importante que isso, talvez, foi sua aproximação
maior dos próprios personagens e de sua relação do que propriamente da ação e a
dupla de atores principal parece servir perfeitamente aos seus propósitos, com
um Granger que empresta uma dimensão
ambivalente e nuançada ao seu criminoso e uma carismática O`Donnel cuja
generosa máscara, que substitui a enigmática
do início do filme, antecipa a de Natalie Wood em um filme mais célebre
do mesmo realizador, Juventude Transviada (1955). De fato, em
filmes do gênero, habitualmente a relação afetiva não passava de um detalhe. Ao
trazê-la para o primeiro plano, Ray pode explorar com maestria o seu talento na
direção de atores, apresentando um Bowie durão mas igualmente terno; é mais do
que evidente que Keechie soube “ler em seus olhos” esta reserva de ternura já
de muito perdida pelos criminosos mais velhos. Enquanto a mística do casal
foragido seria recriada, com mais violência
mas com a herança do carisma de
seus anti-heróis por Bonnie & Clyde
(1967), Godard certamente percebeu o descaso do realizador com a trama de ação
propriamente dita, secundarizando-a de vez em sua também estreia no cinema, Acossado, ao qual não falta a morte de
um policial rodoviário em situação bastante semelhante a aqui apresentada. Robert Altman refilmaria o mesmo romance em meados dos anos 70, mantendo o título
original. Woody Guthrie teve uma participação não creditada na trilha sonora. RKO Radio Pictures. 95 minutos.
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