Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#104: José María Velasco Maidana



VELASCO MAIDANA, JOSÉ MARÍA. (Bolivia, Ca. 1900-1989). O mais significativo pioneiro do cinema boliviano, cuja obra serve como inspiração para os realizadores socialmente conscientes para as regiões montanhosas andinas da América do Sul, José María Velasco Maidana, havia esquecido, ele próprio, tudo sobre seus filmes quando entrevistado, em 1978, por Alfonso Gumucio-Dagron, e sua obra havia desapercido por completo até a restauração de seu segundo longa, Wara Wara (1930), foi completada em 2010.

Nascido na Bolivia, Velasco Maidana estudou composição musical e conduziu o Conservatório Fontonva de Buenos Aires, e ao retornar ao seu país natal, tornou-se um professor de história da música no Conservatório Nacional de La Paz. Seu primeiro longa foi o famoso La Profecia del Lago (1923-25) que se tornou um filme desaparecido antes mesmo de sua estreia, por conta da censura. Em 1927 realizou um curta documental sobre a inauguração do estádio de futebol Hernando Silles, e em 1928 fundou sua própria companhia cinematográfica, Films Urania, dirigindo quatro curtas, incluindo Amanacer Indio.

Seu segundo longa, Wara Wara (1930), significa "estrelas" na língua Aymara foi apenas o quarto longa boliviano, e a primeira super-produção, levando dois anos para ser finalizado. Baseado no romance La Voz de la Quena (A Voz da Flauta), escrito por Antonio Díaz Villamil, narra a história de uma princesa Aymara, Wara Wara, que se apaixona por uma capitão espanhol, contra o pano de fundo do povo inca lutando contra os conquistadores europeus no século XVI. Pela primeira vez em um filme boliviano cenários foram construídos, do Palácio Aymara, e numerosos figurinos foram confeccionados. Como La Profecía del Lago, o filme representa a declaração do diretor pelo reconhecimento que a identidade boliviana evoluiu através da mistura de povos europeus e nativos. Desta feita o filme não foi banido e foi bem recebido quando de sua estreia, em La Paz, em janeiro de 1930, talvez porque muitos poetas e artistas bolivianos estivessem envolvidos na sua produção. Somente duas cópias foram feitas, uma das quais viajou à Alemanha e nunca retornou, enquanto a outra desapareceu. Depois disso, quando a Guerra do Chaco, com o Paraguai iniciou, Velasco Maidana foi contratado pelo governo, junto com seu fotógrafo Mario Camacho, para ir ao campo e documentar a guerra, resultando em La Campaña del Chaco (1933). Camacho também co-dirigiu um filme de ficção com José Jiménez, Hacia la Gloria (1932), produzida por José Durán, ambos os quais trabalharam em Wara Wara. 

Velasco Maidana nunca retornou ao cinema depois disso, mas continuou a ser um bem sucedido compositor de sucesso, pelo qual ainda é bem reconhecido. Deixou a Bolívia para sempre nos anos 1940 e morreu nos Estados Unidos, em 1989. Após sua morte, 63 latas de nitrato foram recuperadas no porão da casa de seu neto em La Paz. De início, nenhuma tentativa foi feita para identificar  as películas, mas a Cinemateca Boliviana, uma fundação privada de poucos recursos, enviou o material à Alemanha, onde o material foi transferido para acetato. Fernando Vargas Villazon meticulosamente reconstruiu Wara Wara, e uma versão de 69 minutos (com velocidade de 24 quadros por segundo) foi exibida no Festival da Restauração  (Il Cinema Ritrovato), em Bolonha, Itália, 2010, após o arquivo local ter realizado uma restauração digital do filme. Ver também CINEMA ETNOGRÁFICO.

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