Filme do Dia: Meu Melhor Inimigo (1999), Werner Herzog

 


Meu Melhor Inimigo (Mein Liebster Feind, Alemanha/Reino Unido/Finlândia/EUA, 1999). Direção: Werner Herzog. Fotografia: Peter Zeitlinger. Música: Popul Vuh. Montagem: Joe Bini.

Documentário no qual Herzog traça sua relação de amor e ódio com o ator Klaus Kinski, que vivenciou o protagonista de cinco filmes seus, desde quando dividiu um quarto de hotel com ele ainda na adolescência até decidir que jamais voltaria a trabalhar com o ator, após Cobra Verde (1987). O cineasta revisita alguns dos locais mais intensos de sua relação turbulenta com o temperamental Kinski, que por vezes coincidem com alguns dos mais belos momentos da própria filmografia do cineasta – caso da notável seqüência inicial repleta de vapor e mistério, nas ruínas de Machu Pichu de Aguirre, a Ira de Deus (1972), primeira colaboração entre ambos. Conta ainda com depoimentos de parceiras de interpretação de Kinski como as atrizes Claudia Cardinale e Eva Mattes, do coadjuvante Justo González, que expõe a cicatriz que guarda até hoje na testa de uma violência provocada pelo acesso de ira do ator durante uma seqüência de Aguirre e com imagens de arquivo que flagram Kinski em um momento de fúria, assim como a cena que lhe revelou aos olhos de Herzog, num filme de Lázsló Benedek de 1955. E igualmente cenas inéditas de Jason Robards Jr. e Mick Jagger para as filmagens de Fitzcarraldo (1982), sendo que todos os dois acabaram por abandonar posteriormente a produção, num provável golpe de sorte para Herzog – o primeiro parece reproduzir o típico aventureiro em território “não civilizado” das produções anglo-saxãs, enquanto o segundo não vai além das caretas e trejeitos de suas apresentações no palco. O resultado final é grandemente decepcionante e a exceção de uns poucos momentos, como a bela seqüência final na qual Kinski brinca com uma borboleta diante da câmera, destituído de qualquer vitalidade maior que transcenda o folclore dos bastidores de algumas das produções do cineasta que foram já fartamente explorados como um elemento a mais na divulgação dos mesmos – e que por si só já motivaram documentários de outros realizadores. Com voz quase sempre sussurada sem nenhum motivo aparente que não seja o de reforçar o tom confessional de suas declarações, Herzog chega a lembrar que Kinski afirmou que muito do que escrevera execrando-o em sua autobiografia era apenas para estimular sua venda, o que talvez, em certa medida, o próprio cineasta acabou, inconscientemente ou não, reproduzindo nesse documentário em questão. Em outro momento, igualmente, Herzog volta involuntariamente a depor contra seu próprio projeto, quando relembra que tentara demover o ator de abandonar o set de Aguirre, tentando fazê-lo crer que os filmes finalizados são muito mais importantes que as querelas pessoais que eles provocam entre os que os realizam. Nada mais apropriado quando o próprio traçado da construção dos mesmos e suas querelas acaba sendo tão canhestro e desinteressante diante de boa parte das obras finalizadas como se trata do caso em questão. Prêmio do Público na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. BBC/BR/Cafe Productions Lmtd./Independent Film Channel/Werner Herzog Filmproduktion/WDR/YLE/Zephir Film/arte. 95 minutos.

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