Filme do Dia: Amo un Assassino (1951), Baccio Bandini

 


Amo un Assassino (Itália, 1951). Direção Baccio Bandini. Rot. Original Baccio Bandini, Sandro Continenza, Ennio De Concini, Mario Monicelli & Steno. Fotografia Renato Del Frate. Música Gino Marinuzzi Jr. Montagem Otello Colangeli. Dir. de arte Alberto Boccianti. Com Umberto Spadaro, Delia Scala, Andrea Bosic, Marco Vicario, Natale Cirino, Dorian Gray, Marga Cella, Angelo Maggio.

O comissário Pietrangelli (Spadaro) se vê envolvido com uma investigação, a de uma mulher que aparentemente se jogou do vão de um condomínio onde mora com sua filha, Silvia (Scala), que demonstrará ser a mais espinhosa de sua carreira, já que o principal suspeito e ex-companheiro da vítima, Aldo (Bosic) vive uma relação até então secreta, com sua filha.

Uma resposta italiana ao filme B americano? A temática, o título chamativo e a duração parecem de imediato nos fazer lembrar da não muito referida ou prestigiada produção do outro lado do Atlântico. Porém nem mesmo este ousaria uma cena tão extravagante quanto a do aparente suicídio já ao início do filme, mesmo que descontada a ausência de sangue e desfiguração do cadáver – que tampouco ocorreriam naquele. Tudo isso inesperadamente após um início em que observamos um ciclista a trabalho passear tranquilamente pelas ruas de uma Roma distante da premência dos filmes neorrealistas de pouco antes (mais notadamente Ladrões de Bicicleta). Infelizmente, o relativo dinamismo visual que demonstra ao início fica restrito aos créditos, pois quando a trama verdadeiramente se inicia  o imperativo passa a ser os diálogos. E se os valores de produção não seriam os de um filme B, e se aproximariam mais de um noir produzido pelos grandes estúdios, ao menos em sua equivalência italiana – realizado por um estúdio de grande prestígio e apelo comercial no país, encontra-se longe da ambiguidade amoral do gênero norte-americano e se adivinha próximo dos valores e da moral familiar italiana. Ao ponto de fazer quase o percurso  inverso do melodrama que um pai vem defender a filha nos tribunais (A Filha do Advogado), pois aqui o investigador não apenas demonstra sua incompatibilidade com a investigação, que ameaçara fazer de início, como vai encontrando elementos que apontam para o envolvimento da filha no suposto crime. Um comportamento esquivo parece denunciar o verdadeiro culpado, com dois terços do filme encaminhados. Porém, o drama maior que o filme busca suscitar é o de um pai trágica (ou seria melhor dizer pateticamente) dividido entre sua experiência como investigador e o instinto paterno. Não é por acaso, que seu final lide com o alívio deste e sua discreta comemoração com o fiel assistente Palermo (tipo de relação clichê que não passaria despercebida da mente paródica de Sganzerla em O Bandido da Luz Vermelha) e nem se preocupe mais em apresentar o jovem casal. E tudo se torna tão escancaradamente dependente da arrumação de um típico roteiro coletivo italiano, que se consegue imaginar as discussões acaloradas do grupo, que incluía o comediante e diretor em início de carreira Steno e o novato na direção de longas Mario Monicelli – se duvidar o criador dos momentos em que Pietrangelli convive com seu assistente. Para além das comparações com o cinema hollywoodiano, o filme também pode ser considerado como um precursor distante do giallo,  policial mais atmosférico que emergiria mais de uma década após com Olhos Diabólicos, de Mario Bava. O elenco, embora não seja de primeira linha, tampouco é de completos desconhecidos como no caso dos B norte-americanos – Spadaro, habitualmente coadjuvante, também protagonizou filmes importantes (Anni Difficili), é quem puxa um elenco de caracterização, com canastrões como Bosic. Uma investida do cinema brasileiro no terreno do policial, em período próximo, mesmo contando com orçamento e aparato de produção mais precário, consegue ser menos esquemática e previsível (seu título, Amei um Bicheiro reverberaria o deste?).  Suas primeiras imagens, são uma evocação domesticada das que abrem um filme bem mais controverso, à sua época, Obsessão. |Lux Film.  85 minutos.

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