Filme do Dia: When Pomegranates Howl (2020), Granaz Moussavi

 


When Pomegranates Howl (Irã/Afeganistão/Austrália/Holanda, 2020). Direção e Rot. Original Granaz Moussavi. Fotografia Behrouz Badrouj. Música Hossein Alizadeh. Montagem Shima Monfared. Figurinos Hussain Sidiqui. Com Arafat Faiz, Elham Ahmad Ayazi, Freshta Alimi, Amir Shah Talash, Hashmatullah Fanai, Ustad din Mohammad Saqi, Andrew Quilty.

Hewad (Faiz) é um garoto pobre de uma Cabul vítima de ataques aéreos das forças de coalizão em confronto com os talibãs. Ele não conta para sua mãe (Alimi) se encontrar no local de um atentado, no qual ficou levemente ferido. Seu sonho é se tornar um astro de cinema e quando observa os óculos escuros no chão, em meio a uma briga de rua, não reclamados por ninguém, leva-o para si.

Quem inadvertidamente pensa inicialmente se tratar de um filme iraniano – até ouvir a palavra Talibã, ao menos – poderia pensa-lo como uma produção filmada clandestinamente e mostrando uma perspectiva realista da infância (e da metrópole, observada em generosos planos a mostrar o distante casario pobre a subir os morros, como um espelho distante do que observamos de forma aproximada) de maneira  a não ocultar a violência, a miséria e a feiura, tudo que havia sido driblado pela produção deste país. Há imagens que talvez  condensem muitas das apostas de um filme em si. Neste caso, uma delas provavelmente é o da família reunida no cômodo no qual as crianças se preparam para dormir. A interação maior é entre mãe e filho, ao centro do quadro. A menina dorme, e não importa à narrativa, a avó faz movimentos repetitivos com a mão no queixo, pela dor de dente. Há uma luminosidade baixa, representando a luz de um candeeiro e todos estão agasalhados pois é inverno. Há uma luz que oscila, vinda de fora da janela. Busca-se no refúgio do domicílio, um pouco do aconchego não vivido nas ruas, no caso do garoto. Tudo funciona, mas fica-se com o forte cheiro de encenação. O seu caráter de pequena crônica do cotidiano, sem se deixar sufocar pela história mais ampla, como a maior parte das abordagens cinematográficas sobre  o Afeganistão de alguma repercussão internacional (Os Olhos de Cabul, A Caminho de Kandahar, E Buda Desabou de Vergonha, Osama, dentre vários), potencialmente positivo, em não poucas ocasiões resvala para mais insipidez que crônica; embora no final, e não tão inesperadamente, infelizmente reverta tal perspectiva, e de uma forma dramaticamente bastante incipiente. Não fica tampouco demarcado de onde emerge o interesse do garoto pelo cinema e sua fantasia de vir a ser um astro, pois não o vemos em nenhum momento interessado em ver filmes. Sendo um artificio metalinguístico como aparenta ser, ou seja, o garoto amador a encarnar o protagonista já estaria realizando o seu sonho de ser “astro” de um filme, é tão raso quanto o contraplano da perspectiva da mulher que não quer ser vista e aceita ser  incensada com o vapor de um amuleto. O momento visualmente climático do filme, e uma bela cena, é a que o garoto sobe a laje de sua casa para alimentar os pombos e observamos estes a revoarem em bando, em contraste com a pobreza do ambiente urbano. Acertadamente não há trilha musical alguma na cena, as imagens se bastando. Porém, é um apêndice incluído por sua beleza, mas do que integrado organicamente ao todo. |Parvin Prod./Sterga Prod. 80 minutos.

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