Filme do Dia: O Caso Richard Jewell (2019), Clint Eastwood

 


O Caso Richard Jewell (Richard Jewell, EUA, 2019). Direção: Clint Eastwood. Rot. Adaptado: Billy Ray, a partir do livro de Kent Alexander & Kevin Salwen e do artigo de Marie Brenner. Fotografia: Yves Bélanger. Música: Arturo Sandoval. Montagem: Joel Cox. Dir. de arte: Kevin Ishioka & Priscilla Elliott. Cenografia: Ronald R. Reiss. Figurinos: Deborah Hopper. Com: Paul Walter Hauser, Sam Rockwell, John Hamm, Kathy Bates, Olivia Wilde, Nina Arianda, Michael Otis, Brandon Stanley, Ryan Boz, Charles Green,  Mike Pniewski.

1996. Richard Jewell (Hauser) vive de bicos de segurança e faxina desde o momento em que foi demitido do emprego que tinha em uma universidade, quando foi agressivo com um grupo de estudantes que se divertia e fazia barulho em um quarto. Motivo de riso de todos, por ser um tanto atoleimado, gordo e desajeitado, ele chama a atenção de um homem que é uma referência em seu trabalho como faxineiro, o advogado Watson Bryant (Rockwell). Quando é segurança em um evento vinculado às Olímpiadas de Atlanta então em curso, desconfia de uma mochila deixada a esmo em um show. Quando os profissionais do FBI chegam, meio que a contragosto, descobrem se tratar realmente de uma bomba, que não tarda a explodir. Porém, após haver tempo necessário para afastar boa parte da multidão do local mais imediato, provocando mais de 100 feridos e duas mortes. Jewell se torna herói até que investigações do FBI a cargo de Tom Shaw (Hamm) e a divulgação de um jornalista com o qual esse possui um caso, Kathy Scruggs (Wilde) vaza a informação para o jornal no qual trabalha, transformando e vida de Richard e sua mãe Bobi (Bathes).

Talvez o que mais chame a atenção aqui seja a forma como a narrativa investe numa desmistificação das instituições americanas (FBI, mídia) a partir de uma vítima injustiçada, numa narrativa de suposto viés progressista, ao menos dentro dos limites do probo liberalismo conservador de seu realizador, porém numa época em que são justamente essas, as instituições, que venham a mais ser bombardeadas pelo governo norte-americano, na figura de seu então excêntrico presidente. Não que o filme tenha necessariamente algo a ver com isso. O carregamento nas tintas habitual do cinema de grande público hollywoodiano está aqui sem tirar nem por. Um Jewel completamente apetatado, uma mãe coragem, uma jornalista inescrupulosa em busca de fama (na melhor tradição de A Montanha dos Sete Abutres) e um ainda menos escrupuloso chefe de investigação da célebre agência norte-americana. A impressão, um tanto incômoda, é que se favorece uma teoria conspiratória, daquelas justamente que motivam atentados de extrema-direita como o retratado pela própria narrativa, quando se estabelece um maniqueísmo tão pulsante como bussóla para tudo. E é no recorte do melodrama que tudo é observado. É o sentimento e indignação moral de Jewell que cala e desconcerta o frio e racional Tom de forma um tanto quanto inverossímil. E quando Tom entrega o documento que finaliza o quiproquó contrário a Jewell, e igualmente a narrativa, algo muito pouco provável que tenha acontecido em tal grau de personalismo, sua via secundária é dada uma revisão de sua postura original, emocionando-se com o discurso de Bobi defendendo o filho, embora tampouco deixe de ter lascas caricatas de sua infâmia, como é o caso de associar o seu carreirismo à sexo como obtenção de informação de sua fonte, inexistentes nas fontes que adapta.  E, com tudo isso, o filme rende a atenção do espectador do início ao final. Leonardo DiCaprio foi co-produtor. Appian Way/Misher Films/75 Year Plan Prod./The Malpaso Co.  para Warner Bros. 131 minutos.

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