Filme do Dia: Depois de Lúcia (2012), Michel Franco
Depois de Lúcia (Después de Lucía, México/França, 2012). Direção e Rot. Original:
Michel Franco. Fotografia: Chuy Chavez. Montagem: Antonio Biribiesca Ayala.
Com: Tessa Ia, Gonzalo Vega Jr., Tamara Yazbek, Hermán Mendonza, Monica del
Carmen.
Lucía (Ia) e seu
pai (Vega Jr.) mudam de cidade após um acidente no qual morreu a mãe e esposa
respectivamente de ambos. Lúcia, sabendo do mal momento que vivencia o pai e
suas complicações no novo trabalho como chef de um renomado restaurante, acaba
omitindo do pai as situações crescentemente vexatórias que passa a vivenciar na
escola, após ter deixado que um dos alunos filmasse ela e ele fazendo sexo em
uma festinha. Com a divulgação do vídeo pela internet, Lucía passa a ser
hostilizada e vítima de piadas por parte de todos na escola. Quando viajam para
Vera Cruz, ela é humilhada diante de todos, estuprada no banheiro, urinada por
vários rapazes, escorraçada pelas moças com as quais divide o quarto. A
situação muda de figura quando todos vão tomar banho de mar a noite e Lucía
desaparece, fazendo com que uma investigação policial se inicie e seu
pai venha a ser chamado e tome consciência de tudo o que se passava com a
filha.
Por mais que esse
filme compartilhe de uma estética formalmente contemporânea no que ela possui
de grandemente herdeira da moderna -
corte seco, ausência de trilha sonora, distanciamento emocional do que é
narrado, enquadramentos bem escolhidos – a impressão que se fica é que o filme
não possui a integridade orgânica que pretende. Afasta-se de seus
propósitos iniciais, quando se descola da protagonista e começa a acompanhar o
que se segue a descoberta do bullying.
Que o filme brinque com as elipses ao início, fazendo com que cada espectador
abrace alguma hipótese para a compreensão do que está ocorrendo, não chega a
ser nada particularmente ousado, já que a partir de determinado momento se
ficará sabendo, inclusive, do que leva aos personagens viverem um momento delicado
– nesse sentido seu estranhamento é bem mais domesticado e passível de ser
enquadrado, inclusive, numa temática circunscrita e “na moda” (o bullying, no caso) que o de certos
realizadores argentinos temporalmente próximos (tais como Lucrecia Martel em O Pântano). Ainda que o fato de nos ser
negado o acesso ao mundo interior dos personagens, e fiquemos presos de suas
reações, num parentesco próximo com o cinema moderno, tal estratégia serve mais
à superficialidade e ao clichê que para qualquer dimensão mais profunda como
muitos podem supor. E o que é pior, em determinados momentos, chega-se à beira
do patético involuntário, como quando o pai leva o garoto que filmou as imagens
de sua relação sexual com Lucía a uma viagem pela estrada e depois, joga-o
amarrado ao mar. Destaque para a excelente interpretação da atriz que
protagoniza o drama. Prêmio Un Certain Regard, em Cannes. Pop Films/Filmadora Nacional/Lemon Films/Stromboli Films
para Bac Films. 93 minutos.
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