Filme do Dia: Desiderio (1946), Marcello Pagliero & Roberto Rossellini
Desiderio (Itália,
1946). Direção: Marcello Pagliero & Roberto Rossellini. Rot. Original:
Diego Calcagno, Giusseppe De Santis, Rosario Leone, Marcello Pagliero, Roberto
Rossellini & Guglielmo Santangelo. Fotografia: Rodolfo & Ugo Lombardi.
Música: Renzo Rossellini. Montagem: Marcello Pagliero. Dir. de Arte: Virgilio
Marchi. Com: Massimo Girotti, Elli Parvo, Roswita Schmidt, Carlo Ninchi, Nina
Corelli, Francesco Grandjacquet, Juci Kellerman, Giovanna Scotto.
Desvalorizada pelo namorado
Giovannni (Ninchi), Paola Previtali (Parvo) retorna a pequena cidade de
sua família, após um passado de prostituição em Milão, que pretende deixar para
trás, desde o suicídio de uma amiga. Lá encontra um pai que se recusa a lhe
dirigir a palavra e se torna vítima de chantagem de um ex-amante, Riccardo
(Grandjacquet), enquanto desperta o desejo do marido da irmã Anna (Schmidt),
Nando (Girotti). Incitada pela irmã a
abandonar a família, Paola se mata. Seu corpo é encontrado próximo de uma
ponte, reunindo alguns curiosos, inclusive Giovanni, que viaja para
encontrá-la.
Ainda que
as filmagens em locação e a paisagem da região componham um importante elemento
dramático, o filme, que iniciou sua produção três anos antes sob direção de
Rossellini, pouco guarda da estética que busca um novo realismo naquele momento
(a exemplo de Obsessão, de Visconti,
com o mesmo Girotti ou das experiências que Rossellini realizava em sua
“trilogia do exército”). A ousadia na abordagem da sexualidade, bastante
premente em todo o filme, talvez seja o único elemento a ser compartilhado com
o clássico de Visconti, o que também lhe renderia problemas com a censura;
nesse sentido, a cena em que Nando flagra Paola no banho, com um seio exposto é
mais explicitamente erótica do que outras cenas de nudez feminina do período
como as entrevistas em A Coroa de Ferro ou A Farsa Trágica, ambos de Blasetti.
E talvez ainda mais marcante em sua tensão sexual o momento em que Paola anda
na garupa da moto de Nando. De todo
modo, sua comparação com o filme de Visconti em termos de contemporaneidade se
torna problemática, dada a longa distância que separa o início de sua produção
até o seu efetivo lançamento, assim como sua dramaticidade marcada pela
fatalidade soando mais próximo de outros filmes aparentemente também
influenciados pelo realismo poético francês, tais como Fari nella Nebbia (1942), de Franciolini, por mais que o último não
concretize, como aqui, o que parece se esboçar desde o seu início. Esse
fatalismo trágico impede igualmente saídas conciliatórias entre os rígidos
valores patriarcais provincianos e a vida citadina, associada com a perda dos
valores morais, tal como a presente ao final de
O Coração Manda (1942), de
Blasetti; não apenas o pai permanece até o final sem dirigir uma palavra a
filha, como ela ganha igualmente a inimizade da irmã. O que parece ter restado
de Rossellini, tendo-se como parâmetro o estilo do realizador apresentado em
outros filmes do período, certamente foi muito pouco, quando se observa
decupagem de planos mais fechados e atentos às regras do modelo clássico ou a elaboração
da bela e límpida fotografia em tons embranquecidos pouco comum, inclusive, em
outras realizações do período, ambos bastante estranhos a produção do
realizador no momento. Deve-se ter em conta que essa é uma versão remontada,
sendo que a original conta com mais de 15 minutos além. SAFIR/Sovrania Film para Fincine. 75 minutos.
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