Filme do Dia: Despair (1978), R.W. Fassbinder



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Despair (Al. Ocidental-França, 1978). Direção:: R. W. Fassbinder. Rot. Adaptado: Tom Stoppard, a partir de Nabokov. Fotografia: Michael Ballhaus. Música: Peer Raben. Montagem: R.W. Fassbinder, Juliane Lorenz & Reginald Beck. Dir. de arte; Rolf  Zehetbauer. Cenografia: Kathrinn Brunner, Jochen Schummacher & Herbert Strabel. Figurinos: Dagmar Schauberger. Com: Dirk Bogarde, Andréa Ferreol, Klaus Löwitsch, Volker Splenger, Peter Kern, Alexander Allerson, Gottfried John, Hark Bohm, Bernhard Vicky.
Na Alemanha dos idos da década de 1930, o industrial do chocolate alemão e emigrante russo Herman Herman (Bogarde) começa gradativamente a enlouquecer, vendo a si próprio enquanto entra em contato sexual com sua esposa, Lydia (Ferreol), ao mesmo tempo que acredita que o operário Felix (Löwitsch), que possui um tipo físico bastante distinto, seria sua cópia fiel e poderá servir como isca para os nazistas em ascensão.
Nessa comédia de humor negro, Fassbinder parece não apenas antecipar estratégias que se tornariam correntes nos mind game films, em que a perturbação de seus protagonistas parece se refletir na própria estrutura narrativa. Porém, ao contrário daqueles, a elaboração de tais representações passa também por recursos de uso bem mais sutil, como o da trilha musical e dos diálogos, que favorecem uma dimensão de relativa obscurecência com relação a situação em questão. Sendo a primeira produção do realizador com diálogos em inglês e um roteiro não redigido por ele próprio, o filme se apresenta crescentemente histérico e contra-producente para quem se fiou somente na espirituosidade  de Herman nos diálogos iniciais do casal, que bem poderiam ser lidos como misóginos. Sua histeria, no entanto, parece mais potencial do que completamente explicitada, tal como a de filmes como O Assado de Satã. Parecendo igualmente ser a representação de homossexualidade latente de seu protagonista, na ambiguidade de sua relação com um “duplo” que, ao contrário de si, é extremamente masculinizado. Fazendo uso mais restrito e efetivo da virtuosidade da câmera de Ballhaus do que em outras produções do período (notadamente Roleta Chinesa), trata-se da primeira realização do cineasta com atores de apelo internacional, e valores de produção mais sofisticados, algo que juntamente com o caráter alegórico em relação à história da Alemanha, prenunciam o que se encontrará presente na  maior parte dos filmes da fase final da carreira do realizador. Destaque para as private jokes, como a que Herman faz a respeito da mãe, com a presença da mãe do próprio Fassbinder em cena, assim como para planos de composição inspirada por sua excentricidade, como a dos bonecos de chocolate desfilando pela esteira enquanto Herman conversa sobre negócios ao fundo. Seu final, destituído da obviedade do desenlace, substituído pela imagem subitamente fixa, é mais um elemento a recusar um diálogo fácil com o público. Bavaria Atelier/Bavaria Film/Filmverlag der Autoren/NF Geria Filmgesselshaft GmbH/SFP. 119 minutos.

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