Filme do Dia: Dezesseis Zero Sessenta (1996), Vinícius Mainardi


Dezesseis Zero Sessenta
Dezesseis Zero Sessenta (Brasil, 1996) Direção: Vinícius Mainardi. Rot. Original: Diogo Mainardi. Fotografia: Lito M.R. Música: Hilton Raw. Montagem: Betty Mainardi. Com: Antonio Calloni, Maitê Proença, Marcélia Cartaxo, Carlos Meceni, Fabiano Fabris, Bruno Giordano, Amaury Álvares.
Vitório (Caloni), rico empresário, é surpreendido juntamente com a esposa Eleanor (Proença) por um assaltante em  plena madrugada. Vitório esfaqueia o assaltante Jackson na perna. Após obsessivos juramentos de vingança por parte de Jackson - que só ficara preso seis meses - e preocupado com sua segurança e de sua família, aceita a proposta de seu advogado de mandar assassiná-lo na prisão. O preso a quem foi encomendada a tarefa acaba se equivocando e assassinando outro presidiário. Tomando conhecimento do fato, Vitório manda seu advogado averiguar como se encontra a família do preso morto. O advogado encontra-o nas piores condições, sendo despejados do barraco em que moravam. A viúva (Cartaxo) e seus três filhos, aceitam de bom grado a proposta de irem até a casa do empresário, surpreendido em meio ao jantar. Após se irritar, aceita que eles permaneçam por alguns dias, enquanto um dos filhos da viúva, Washigton, se restabeleça da febre e contando tudo a sua esposa, que passa a se afeiçoar a Wilson, o mais novo dos garotos. Liberto e dizendo-se regenerado,  Jackson passa a trabalhar para Vitório. Inconformado com o rumo que as coisas vão tomando - as crianças passam a dominar a casa, e destruir tudo e a crescente afeição da esposa - que chega a afirmar que gosta mais de Wilson que de seu próprio filho - Vitório não vê a hora de se livrar da família. Quando percebe que o filho já está recuperado, a viúva incentiva Washigton a pegar outra doença. Este toma banho no Tietê e, ao voltar para casa, morre. No enterro de Washigton, Vitório avisa para sua mãe que deve deixar  a casa no mesmo dia. A viúva recusa e conta uma novidade: está grávida do filho adolescente de Vitório. Acuado, Vitório após muito insistir, consegue que Jackson, a quem perversamente só consegue tarefas que não lhe agradam e pretende voltar a lavar carros, aceite livrar-se da viúva. Acidentalmente Jackson mata a esposa e filho de Vitório. Vitório manda matar Jackson. Enquanto a família abandona sua casa, Vitório se delicia na piscina com a dança de três garotas.
Apesar da forma perspicaz e irônica que lida com o caricato e os estereótipos (tanto do “rico” como do “pobre”, apresentando situações que permeiam, ainda que anedoticamente, nosso inconsciente coletivo), tal fato não transforma o filme em uma comédia propriamente sofisticada, como parece ser a intenção. Em outras palavras, fazendo analogia com o cinema americano, o filme está mais para Paul Bartel que para Woody Allen. Deixando de lado o “pobre” enquanto mera vítima e apresentando uma moral que evidencia - talvez exacerbadamente  - a distância que separa as intenções da prática de nossas elites,  não consegue que tais virtudes obscureçam as limitações de seu humor negro, como a dispensável seqüência final do empresário feliz, mesmo após a morte da mulher e do filho e as excessivas inverosimilhanças do roteiro, até mesmo para um filme que não possui nenhuma pretensão estritamente realista. Ainda assim, um dos melhores momentos da nova onda de cinema brasileiro dos anos 90. Perceber o elaborado trabalho de câmera, como numa seqüência de diálogo entre Vitório e Eleanor, em que a câmera passeia em travelling de um personagem a outro,  situando-os em um constante fora/dentro de campo. Media Luna Int. Films Sales. 86 minutos.

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