Filme do Dia: Lore (2012), Cate Shortland


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Lore (Alemanha/Austrália/Reino Unido, 2012). Direção: Cate Shortland. Rot. Adaptado: Cate Shortland & Robin Mukherjee, a partir do romance The Dark Room, de Rachel Seiffert. Fotografia: Adam Arkapaw. Música: Max Richter. Montagem: Veronika Jenet. Dir. de arte: Silke Fischer & Jochen Dehn. Figurinos: Stefanie Bieker. Com: Saskia Rosendahl, Nele Trebs, Mike Weidner, Ursina Lardi, Hans-Jochen Wagner, Nick Holaschke, André Frid, Mika Seidel, Eva-Maria Hagen.
Lore (Rosendahl) é a filha mais velha de um casal de alemães colaboradores com o nazismo. O pai (Wagner) é morto e a mãe (Lardi) parte para se entregar, deixando Lore a cuidar do restante dos quatro filhos, numa situação de penúria quase absoluta. A mãe afirma que devem encontrar a avó em Hamburgo. Com uma situação precária de alimentação, o grupo se torna próximo de um refugiado judeu, Liesel (Trebs), que passa a ajuda-los, inclusive afirmando se tratarem todos de uma mesma família, alegando que o restante perdeu os documentos, para conseguir uma carona junto aos americanos. Lore mantém uma relação ambígua com ele, ao mesmo tempo se sentindo atraída e enojada por se tratar de um judeu, tudo aquilo que seus próprios pais abominavam. Com muita dificuldades, o grupo chega ao lado soviético da Alemanha dominada, após assassinar um homem, de quem se apoderam do barco para efetuarem a travessia. Quando se encontram já em território russo, um dos garotos do grupo, Gunter (Frid), é morto, desobedecendo as ordens de Liesel, justamente por sua preocupação com ele. Outro irmão, Jurgen, furta-lhe os documentos, o que complica sua situação no trem que pegam para Hamburgo. Lore e a família reencontram a avó (Hagen). É o momento das crianças saberem a verdade sobre o destino de seus pais. Lore, no entanto, sente-se inconformada com a sorte de Liesel.
Por mais que o filme traga um elemento não muito explorado pelos filmes mais lembrados que lidam com o período, o do sofrimento dos próprios alemães que eram simpatizantes de Hitler após o domínio americano, o herói vitimado do filme não deixa de ser judeu. Tudo é observado não apenas na moldura melodramática, por mais discretos que sejam as demonstrações de afeto e emoções. Algo que se reflete no próprio domínio visual, onde ocorre a preponderância de imagens dos personagens em primeiro plano sobre um fundo eminentemente em flou e uma câmera instável. Há um excessivo voyeurismo com cadáveres em decomposição e ferimentos em geral que em nada aumenta ou diminui sua busca de retratar o mundo cão que é sobreviver numa situação limítrofe. Nem tampouco de longe as pretensões alegóricas que acompanhava relatos históricos de realizadores que produziram suas obras mais relevantes nos anos 1960 e 1970 como Fassbinder ou Schlöndorff. E, ao final, ao despedaçar o pequeno cervo, assim como toda a coleção de bibelôs da avó, Lore simbolicamente esmaga também seu passado, ainda renitente de algum modo na figura daquela, porém é muito esquemático e localizado seu gesto para que possua um efeito que vá além da mera retórica. Rohfilm/Porchlight Films/Edge City Films para Piffl Medien. 109 minutos.

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