Filme do Dia: A Navalha na Carne (1969), Braz Chediak
A Navalha na Carne
(Brasil, 1969). Direção: Braz Chediak. Rot. Adaptado: Braz Chediak, Fernando
Ferreira & Emiliano Queiroz, baseado em peça de Plínio Marcos. Fotografia:
Hélio Silva. Música: Almir Chediak. Montagem: Rafael Justo Valverde.
Cenografia: Cláudio Moura. Com: Jece Valadão, Glauce Rocha, Emiliano Queiroz,
Carlos Kroeber, Ricardo Maciel, Gilda Nery.
Norma Suely
(Rocha) é uma prostituta que é espancada pelo amante cafetão, Vado (Valadão),
quando chega em casa e não há sinal do dinheiro que ela havia guardado. Suely imagina
que quem a roubou foi o faxineiro homossexual Veludo (Queiroz), que após ser
torturado por Vado, revela que roubou o dinheiro para manter relações sexuais
com um rapaz que desejava. Após um jogo erótico e violento de humilhações,
Veludo se retir e Vado continua a humilhar Norma, acusando-a de velha e motivo
de nojo, enquanto essa insinua traços de homossexualidade em Vado, pela forma
que ele tratou Veludo.
Essa
primeira adaptação da obra de Marcos torna-se bem mais consistente, em termos
cinematográficos, que a segunda, Dois Perdidos numa Noite Suja, realizado logo a seguir pelo mesmo Chediak. Para
tal colaboram além da presença luminosa de Glauce Rocha, a bela iluminação e
fotografia em p&b (ao contrário das cores berrantes do segundo) e uma menor
dependência dos diálogos em suas primeiras sequências, marcadas por uma
valorização dos tempos mortos. Um dos recursos particularmente interessantes
foi a montagem paralela das cenas de amor entre Norma e um cliente obcecado e
cheio de culpa e Veludo e um rapaz que desejava há muito tempo. Marcado pelo
tom sórdido com que retrata seus personagens, herdeiro do texto de Marcos, o
filme foi um marco em termos de apresentação de linguagem e situações chulas,
além de apresentar algumas das situações mais ousadas que o cinema brasileiro
já havia efetivado em termos comportamentais, seja homossexualidade, chegando
inclusive a uma alusão a sexo oral entre Vado e Veludo ou uso de maconha. Nesse
sentido, poderia se traçar um aspecto transgressivo semelhante ao que Quem Tem Medo de V. Woolf?, também
adaptado de uma peça teatral, provocou no cinema americano. O resultado perde
sua força, no entanto, a partir do momento que se torna gradativamente
dependente do diálogo e de uma certa interpretação à la Actor´s Studio, que
acabou se tornando uma armadilha ainda maior para a adaptação seguinte. O
personagem do gay afetado é antepassado do vivido por Nachtergaele, de forma
bem menos esquemática, em Amarelo Manga,
que também foca sua atenção na sordidez de certos tipos e ambientes populares.
Uma refilmagem foi efetuada por Neville D´Almeida, em 1997. Magnus Filmes. 90
minutos.
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