Filme do Dia: Lua-de-Mel ao Meio-Dia (1966), Roy Boulting


Lua de Mel ao Meio-Dia - Poster / Capa / Cartaz - Oficial 1
Lua-de-Mel ao Meio-Dia (The FamilyWay, Reino Unido, 1966). Direção: Roy Boulting. Rot. Adaptado: Bill Noughton, baseado em sua peça Honeymoon Deferred. Fotografia: Harry Waxman. Música: Paul McCartney. Montagem: Ernest Hosler. Dir. de arte: Alan Whity. Figurinos: Bridget Sellers. Com: Hayley Mills, Hywell Bennett, John Mills, Marjorie Rhodes, Avril Angers, John Comer, Murray Head, Barry Foster, Wilfred Pickles.
Após casados, Jenny (Hayley Mills) e Arthur (Bennett) não conseguem concretizar o casamento dado a impossibilidade de terem intimidade na casa dos pais de Arthur. A lua-de-mel foi frustrada por conta de problemas com a agência de viagens e a intensa pressão social, não apenas das duas famílias, como de toda a vizinhança. A visível insatisfação de Jenny, que inclusive chega a se sentir atraída pelo irmão de Arthur, Geoffrey (Head), ganha proporções fora dos limites quando comenta com a mãe, Liz (Angers), que vai com o marido visitar os pais de Arthur. Por sua vez, Arthur comenta o que está acontecendo com uma assistente social e é ouvido por uma de suas vizinhas, que é faxineira da instituição. No trabalho, após escutar piadinhas, Arthur agride  seu patrão, Joe Thompson (Foster). No mesmo dia, ao voltar para casa, tem uma intensa discussão com Jenny que resulta em seu primeiro contato amoroso, que é acompanhado de perto pelas fofoqueiras da vizinhança, assim como conseguem ter o dinheiro de volta da agência de viagens, partindo finalmente para a lua-de-mel, com a expectativa de comprarem uma casa ao retornar, com a ajuda financeira do pai, não sem antes Arthur demonstrar um primeiro aceno de simpatia para com o último, Ezra (John Mills), com quem sempre teve uma relação turbulenta.
O filme apresenta uma versão bem distinta da classe trabalhadora inglesa daquela tematizada poucos anos antes pelo novo cinema britânico. As chaminés e casas conjugadas ao fundo são as mesmas daquele. Assim como a intensidade da raiva de seu angry young men.A maior diferença, sem dúvida, reside no fato de que os conflitos aqui são internos ao próprio ambiente popular, nunca tematizando uma relação de ressentimento para com as classes mais abastadas, ou qualquer ambição maior de ascensão social, motivo de muitos daqueles (Almas em Leilão, A Solidão de uma Corrida sem Fim). Sem falar que seu tratamento, menos soturno e mais leve, no ritmo de discreta comédia doméstica, é igualmente mais convencional, observando uma família da classe trabalhadora enquanto reprodução menos glamourosa de expectativas universais, porém obstaculizadas por questões bem específicas de classe (falta de dinheiro para terem um local próprio de moradia, incapacidade de estabelecer uma intimidade num ambiente pouco apropriado pelas suas próprias dimensões, etc.). O filme consegue construir a medida certa para apresentar sua preocupação central, ao mesmo tempo longe de certa gravidade pomposa que ameaçava pairar sob parte da produção mais politicamente orientada que o antecedeu, porém nunca compartilhando a saída fácil que seria a de aderir ao humor que faz troça de seus personagens, que seria reprodutor da mesma lógica social que pretende questionar, mesmo que longe de pô-la de lado (a apresentação do casal finalmente enamorado na janela,  parece ser quase uma involuntária resposta necessária às maledicências da vizinhança). Seu final não deixa de apontar também as limitações de tal modelo diante daquele mais realista que lhe antecedeu, sendo mais que clássica a quantidade de problemas que são resolvidos no último momento (moradia, ciclo de fofocas, animosidade com o pai), como se o impedimento maior (sexo na vida do casal) instantaneamente neutralizasse todos os outros. Quem rouba a cena é o casal vivido por Marjorie Rhodes e John Mills, sendo John o pai na vida real de sua nora na ficção. Alguns atores secundários seriam mais lembrados por papéis de maior destaque posteriormente como é o caso de Murray Head (Domingo Maldito) e Barry Foster (Frenesi). Paul McCartney assina, sem grande distinção, sua primeira trilha sonora para o cinema. Jambox para Warner. 115 minutos.


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