Filme do Dia: Longe do Paraíso (2002), Todd Haynes

 


Longe do Paraíso (Far from Heaven, EUA/França, 2002). Direção e Rot. Original: Todd Haynes. Fotografia: Edward Lachmann. Música: Elmer Bernstein. Montagem: James Lyons. Dir. de arte: Mark Friedberg & Peter Rogness. Cenografia: Ellen Christiansen. Figurinos: Sandy Powell. Com: Julianne Moore, Dennis Quaid, Dennis Haysbert, Patricia Clarkson, Viola Davis, James Rebhorn, Bette Henritze, Michael Gaston, Jordan Puryear.

Nos anos 50 em Connecticut, o casamento modelo de Frank (Quaid) e Cathy Whitaker (Moore) começa a desmoronar quando ela descobre que Frank, quase sempre ausente em casa,  é homossexual. Enquanto ele procura ajuda psicológica, Cathy, cada vez mais isolada e pressionada pelo meio social em que vive, somente consegue encontrar apoio e amizade no jardineiro negro que trabalha para a família, Raymond Deagan (Haysbert).  Observada pelo seu círculo social ao lado de Raymond, Cathy passa a ser alvo de fofocas e provoca a ira de Frank. Frank e Cathy ainda procuram salvar o casamento através de umas férias em Miami, afastando-se de Raymond. Porém, lá se semte atraído por um jovem e, posteriormente, decide abandonar a família para morar com ele. Cathy visita Raymond, que teve sua filha, Sarah (Puryear), ferida por meninos brancos, inclusive o filho do casal Whitaker. Raymond afirma a Cathy que irá partir em alguns dias de mudança para Baltimore. Cathy se despede dele na estação ferroviária.

Haynes revisita o universo melodramático de Douglas Sirk, sobretudo Tudo Que o Céu Permite (1955), seja através da forte referência visual no trabalho de câmera e na trilha sonora triunfalista, porém extremamente melancólica,  de Bernstein (em seu último trabalho) ou através de dramas que tocam em pontos sensíveis ao Sonho Americano então idealizado, como as questões raciais, as diferenças sociais e as diferenças de gênero. Haynes explicita boa parte do que se encontrava submerso no original, principalmente por conta da censura mais enfática e opera algumas adaptações que parecem fazer uma breve menção a Fassbinder (Raymond, como o Ali do realizador alemão, é negro, incluindo uma dimensão racial, sendo a diferença de idade presentes tanto em Sirk como Fassbinder abolida), ainda que o filme esteja longe de operar, como aquele, uma transformação na própria economia narrativa do melodrama. Aqui, pelo contrário, a própria fluidez visual e onipresença da trilha sonora (inclusive sendo reproduzida em termos diegéticos no momento do baile de ano novo em Miami) parecem construir uma melancolia ininterrrupta que, ao contrário de sua fonte original, não consegue ser atenuada pela inclusão de um final feliz, porém os códigos visuais do melodrama permanecem incólumes. Ainda que mais discretos – o cachecol, símbolo do desejo de liberdade de Cathy remonta aos tempos da fundação do melodrama cinematográfico com The Painted Lady, de Griffith – e guiados por interpretações mais contidas e realistas para os padrões do momento em que foi produzido. Há algo de trágico e patético, ao mesmo tempo, na angústia que acompanha a personagem ao final, pois se ela parece ser uma merecida conseqüência de sua própria ingenuidade e imersão na limitada visão de mundo que vivencia tampouco deixa de ser – e talvez ainda mais – um produto de uma vigilância autoritária da sociedade sobre o indivíduo. Detalhe para a sala de cinema como espaço para a fuga de uma realidade árida, seja por parte de Frank, seja por parte de Cathy. Clear Blue Sky Prod./John Wells Prod./Killer Films/Section Eight/TF1 Int./USA Films/Vulcan Prod. para Focus Features. 107 minutos.

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